“Toda a investigação parte de um problema.”
(Prof. Fernando, notas pessoais da sessão 01)

“O próprio paradigma [da investigação] pode “decidir” a escolha e formulação do problema.” (Hússen, 1988)

De acordo com Tuckman (2000) “embora a seleção de um problema seja, muitas vezes, uma das fases mais difíceis num processo de investigação, constitui, infelizmente, uma daquelas fases a que apenas se pode dar uma orientação mínima. Contudo, podemos apresentar alguns critérios.”

Nesse sentido, a função do problema numa investigação deverá ser, de acordo com Punch (1998, citado por Coutinho, 2005):
• organizar o projeto, dando-lhe direção e coerência;
• delimitá-lo (definindo fronteiras);
• focalizar o investigador para a problemática do estudo;
• fornecer um referencial para a redação do projeto;
• apontar os dados que será necessário obter.

Para cumprir a sua função, problema deve:
• ser concreto ou real (não intuições ou ideias vagas);
• reunir condições para ser estudado (meios técnicos e materiais, disponibilidade dos contextos);
• ser relevante para a teoria e/ou prática;
• ser claro, percetível por outros investigadores;
• expressar uma relação entre duas ou mais variáveis;
• expressar-se de modo a admitir apenas respostas precisas;
• ser suscetível de verificação empírica.

A definição de um problema pode ser feita através de um raciocínio:
Indutivo: vários fenómenos são observados e procura-se chegar a algo que os unifica (do específico para o geral);
Dedutivo: o ponto de partida não são as observações singulares, mas sim as teorias já existentes – parte-se de ideias gerais e abstratas de modo a extrair dados específicos ou particulares, parte-se de um conjunto de premissas para a sua verificação.

Segundo Tuckman (2000) “um problema de investigação deve constituir uma questão (implícita ou explícita) formulada claramente sem ambiguidade, sobre a relação entre duas ou mais variáveis. Não deve representar uma questão de natureza moral ou ética, mas uma questão testável empiricamente (através da recolha de dados).”

O problema (sob forma de questão implícita ou explícita) deve desdobrar-se em questões de investigação claras [Como…?], que possibilitarão definir os objetivos da investigação.

Uma estratégia que me parece interessante:

Na publicação How to choose a good scientific problem, Alon (2009) aconselha:
Take your time”.
Do seu ponto de vista, escolhas rápidas levam a frustração e cada semana “gasta” na escolha do problema pode economizar meses ou anos na investigação. Creio que Alon se refere a investigação a nível doutoral (ou pós-doutoral), mas ainda assim considero curiosa a regra que impõe aos seus estudantes: o não compromisso com a definição de um problema antes de um período de 3 meses. Durante esses 3 meses, os estudantes devem ler, discutir e planear, focando-se no “ser” (eu diria até “conhecer”) mais do que no “fazer” — “The state of mind is focused on being rather than doing. The temptation to start working arises, but a rule is a rule. After 3 months, a celebration marks the beginning of the research phase — with a well-planned project.” (Alon, 2009).

Referências:
Almeida, L. S., Freire, T. (2003). Metodologia da investigação em Psicologia e Educação. Psiquilíbrios.Tuckman, B.W. (2000). Manual de Investigação em Educação. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Alon, U. (2009). How to choose a good scientific problem. Weizmann Institute of Science, Rehovot, Israel.

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