Lógica Qualitativa e Lógica Quantitativa

Romanelli & Biasoli-Alves (1998) afirmam que a relação desejada entre o quantitativo com o qualitativo pode ser considerada complementar. Ou seja, enquanto o quantitativo se ocupa de ordens de grandezas e as suas relações, o qualitativo é um quadro de interpretações para medidas ou a compreensão para o não quantificável.

Para Ortí (1994) a relação entre métodos quantitativos e qualitativos pode ser considerada uma “relação de complementaridade por deficiência, que se centra precisamente através da demarcação, exploração e análise do território que fica mais além dos limites, possibilidades e características do enfoque oposto.” p.89

Para Minayo (1994) as relações entre abordagens qualitativas e quantitativas demonstram que:

• “as duas metodologias não são incompatíveis e podem ser integradas num mesmo projeto;

• uma pesquisa quantitativa pode conduzir o investigador à escolha de um problema particular a ser analisado em toda sua complexidade, através de métodos e técnicas qualitativas e vice-versa;

• a investigação qualitativa é a que melhor se coaduna ao reconhecimento de situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos.

Do ponto de vista epistemológico, depreende-se:

• que todo conhecimento do social (quantitativo ou qualitativo) só é possível por recorte, redução e aproximação;

• que toda redução e aproximação não podem perder de vista que o social é qualitativo e que o quantitativo é uma das suas formas de expressão;

• que, em lugar de se oporem, as abordagens quantitativas e qualitativas têm um encontro marcado tanto nas teorias como nos métodos de análise e interpretação.” p.32

Minaÿo (1994) afirma que é importante considerar que “dados aglomerados e generalizados nem sempre correspondem à realidade social que pretendem explicar e à qual propõe adequar.” p.32

Esse ponto de vista pode nos levar a pensar num outro critério para avaliar os trabalhos tanto quantitativos como qualitativos: pesquisas que tenham como objetivos a construção de um conhecimento que se preste, de uma ou de outra forma, a melhorar o mundo que estamos. Em outras palavras, não teríam as pessoas de uma dada comunidade o direito de conhecer as pesquisas financiadas com verbas públicas para conhecer as suas possíveis contribuições sociais? Os critérios de relevância social não deveriam também contemplar as avaliações de qualidade das pesquisas?

Como afirma Bleger (1977), até mesmo a pesquisa por mais básica que seja tem que dizer ao que ela se atrela para construção de um conhecimento que se aplique às necessidades da humanidade.

Romanelli , G. ; Biasoli-Alves, Z.M.M. (1998) Diálogos Metodológicos sobre Prática de Pesquisa. Programa de Pós-Graduação em Psicologia da FFCLRP USP / CAPES ; R. Preto:Editora Legis-Summa)

Funções do Problema

LAROCCA, ROSSO & SOUZA (2005) realizaram ampla pesquisa, com o exame de 28 obras de Metodologia da Pesquisa para tentar identificar a definição do objetivo de pesquisa. A identificação ou definição do objetivo de pesquisa não é uma tarefa trivial, como indicam os autores, e decorre justamente de uma boa especificação do problema de investigação.

Luchesi (1989, p. 169) traz o item “Definir objetivos” ao referir-se à estrutura da redação do projeto. Ele diz que:

Devemos ter claro nesse passo que objetivos que pretendemos alcançar, isto é, qual a problemática a ser refletida, ou ainda, o que pretendemos dizer, realmente sobre o assunto tematizado. A clara determinação do objetivo garante, na explicitação de uma mensagem, uma linha de coerência interna, isto porque trata de um esforço de, mesmo antes de escrever, deixar patente para que “tanto” devem “convergir” as idéias. (…) Com o objetivo bem esclarecido, podemos partir para o esquema, um roteiro orientador da abordagem a que nos propomos.

Luna (1998) é um dos autores que traz contribuições à polêmica dos objetivos, pois, ao tratar do tema “O problema de pesquisa”, aborda a questão dos objetivos juntamente com a questão das hipóteses, enfatizando que a clareza quanto ao problema de pesquisa é um passo fundamental do processo de pesquisar.

Para Luna (op. cit., p. 28): “com alguma freqüência estabelece-se uma confusão entre elementos relativos a um problema de pesquisa e o próprio problema, dando-se andamento ao trabalho de pesquisa sem uma clareza suficiente quanto ao que se pretende pesquisar”. Segundo ele, os objetivos são elementos desse processo.

Contudo, é instigante constatar advertências do autor de que problemas de pesquisa são muitas vezes tomados por objetivos de pesquisa. Ele reconhece que existe uma confusão instalada e, em uma pequena nota de rodapé, registra sua suspeita de que a expressão “objetivos de pesquisa” foi cunhada nos formulários das agências de fomento para forçar a explicitação da relevância de um projeto (Luna, 1998, p. 35). Acredita que o bom-senso seja suficiente para dirimir dúvidas sobre a formulação dos objetivos no projeto ou relato.

Como se nota, objetivos são diferentes de problemas, contudo para serem formulados dependem da clareza que se tem destes.

LAROCCA, P.; ROSSO, A. J.; SOUZA, A. P. DE. A formulação dos objetivos de pesquisa na pós-graduação em Educação: uma discussão necessária. Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 2, n. 3, 11.

Questionário

Amaro et al. (2005) afirmam que um questionário é um instrumento de investigação que visa recolher informações baseando-se, geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em estudo. Para tal, coloca-se uma série de questões que abrangem um tema de interesse para os investigadores, não havendo interacção directa entre estes e os inquiridos.

Um questionário é extremamente útil quando um investigador pretende recolher informação sobre um determinado tema. Deste modo, através da aplicação de um questionário a um público-alvo constituído, por exemplo, de alunos, é possível recolher informações que permitam conhecer melhor as suas lacunas, bem como melhorar as metodologias de ensino podendo, deste modo, individualizar o ensino quando necessário.

 A importância dos questionários passa também pela facilidade com que se interroga um elevado número de pessoas, num espaço de tempo relativamente curto.

Estes podem ser de natureza social, económica, familiar, profissional, relativos às suas opiniões, à atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas expectativas, ao seu nível de conhecimentos ou de consciência de um acontecimento ou de um problema, etc.

TIPO DE QUESTÕESVANTAGENSDESVANTAGENS
Resposta abertaPreza o pensamento livre e a originalidade;Surgem respostas mais variadas;Respostas mais representativas e fiéis da opinião do inquirido;O inquirido concentra-se mais sobre a questão;Vantajoso para o investigador, pois permite-lhe recolher variada informação sobre o tema em questão.  Dificuldade em organizar e categorizar as respostas;Requer mais tempo para responder às questões;Muitas vezes a caligrafia é ilegível;Em caso de baixo nível de instrução dos inquiridos, as respostas podem não representar a opinião real do próprio.  
Resposta fechadaRapidez e facilidade de resposta;Maior uniformidade, rapidez e simplificação na análise das respostas;Facilita a categorização das respostas para posterior análise;Permite contextualizar melhor a questão.Dificuldade em elaborar as respostas possíveis a uma determinada questão;Não estimula a originalidade e a variedade de resposta;Não preza uma elevada concentração do inquirido sobre o assunto em questão;O inquirido pode optar por uma resposta que se aproxima mais da sua opinião não sendo esta uma representação fiel da realidade.

Adaptado de Amaro et al. (2005)

AMARO, A.; PÓVOA, A.; MACEDO, L. A arte de fazer questionário. Porto: Universidade do Porto, 2005. Disponível em: <https://sites.google.com/site/sociologiaemaccao/2-metodologia-da-investigacao-sociologica/a-arte-de-fazer-questionarios.doc&gt;. Acesso em: 18 dez. 2019.

Observação

Belei et al (2008) citam diversos autores para conceituar e descrever a observação. Barton & Ascione (1984) afirmam que observar é um processo e possui partes para seu desenrolar: o objeto observado, o sujeito, as condições, os meios e o sistema de conhecimentos, a partir dos quais se formula o objetivo da observação.

As condições de observação são circunstâncias através das quais esta se realiza, ou seja, é o contexto natural ou artificial no qual o fenômeno social se manifesta ou se reproduz. Por sua vez, o sistema de conhecimento é o corpo de conceitos, categorias e fundamentos teóricos que embasa a pesquisa (REYNA, 1997).

Durante a observação são registrados dados visíveis e de interesse da pesquisa. As anotações podem ser feitas por meio de registro cursivo (contínuo), uso de palavras-chaves, check list e códigos, que são transcritos posteriormente (DANNA; MATOS, 2006). Uma observação controlada e sistemática se torna um instrumento fidedigno de investigação científica. Ela se concretiza com um planejamento correto do trabalho e preparação prévia do pesquisador/observador (LÜDKE, 1986).

Diz-se que uma observação é fidedigna quando o observador é preciso e seus registros são confiáveis. Não basta apenas colocar-se próximo ao objeto de estudo e olhá-lo. Deve-se olhar e registrar. Muitas vezes é preciso mais de uma pessoa para observar e registrar ao mesmo tempo, devendo haver concordância entre os registros. Como prova de fidedignidade, as anotações são comparadas entre o tempo, tamanho e tipo de anotação feita por cada um (BATISTA, 1977; BATISTA; MATOS, 1984).

BELEI, R.A., GIMENIZ-PACHOAL S.R., NASCIMENTO E.N., MATSUMOTO P.H.V.R. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação. 2008;30(1):187-99.

Entrevista

Boni & Quaresma (2005) indicam que a entrevista é definida por Haguette (1997:86) como um “processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”. A entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é a técnica mais utilizada no processo de trabalho de campo. Através dela os pesquisadores buscam obter informações, ou seja, coletar dados objetivos e subjetivos. Os dados objetivos podem ser obtidos também através de fontes secundárias tais como: censos, estatísticas, etc. Já os dados subjetivos só poderão ser obtidos através da entrevista, pois que, eles se relacionam com os valores, as atitudes e as opiniões dos sujeitos entrevistados.

As autoras complementam que a preparação da entrevista é uma das etapas mais importantes da pesquisa que requer tempo e exige alguns cuidados, entre eles destacam-se: o planejamento da entrevista, que deve ter em vista o objetivo a ser alcançado; a escolha do entrevistado, que deve ser alguém que tenha familiaridade com o tema pesquisado; a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do entrevistado em fornecer a entrevista que deverá ser marcada com antecedência para que o pesquisador se assegure de que será recebido; as condições favoráveis que possam garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e de sua identidade e, por fim, a preparação específica que consiste em organizar o roteiro ou formulário com as questões importantes (LAKATOS, 1996).

Por fim, as autoras afirmam que quanto à formulação das questões o pesquisador deve ter cuidado para não elaborar perguntas absurdas, arbitrárias, ambíguas, deslocadas ou tendenciosas. As perguntas devem ser feitas levando em conta a seqüência do pensamento do pesquisado, ou seja, procurando dar continuidade na conversação, conduzindo a entrevista com um certo sentido lógico para o entrevistado. Para se obter uma narrativa natural muitas vezes não é interessante fazer uma pergunta direta, mas sim fazer com que o pesquisado relembre parte de sua vida. Para tanto o pesquisador pode muito bem ir suscitando a memória do pesquisado (BOURDIEU, 1999).

Boni, V., & Quaresma, S. (2005). Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em ciências sociais. Em Tese, 2(1), 68-80. doi:https://doi.org/10.5007/%x

Paradigmas da Investigação

Zanela Saccol (2009) afirmam que a partir de diferentes visões ontológicas e epistemológicas, geram-se diferentes paradigmas de pesquisa. A mesma autora cita Crotty (1998) que indica que paradigmas são, aqui, entendidos como sendo diferentes visões de mundo. Um paradigma é a instância filosófica que irá informar o método de pesquisa.

O Quadro 1 apresentado abaixo demonstra, de forma sintética, as diferentes definições sobre ontologia, epistemologia, paradigmas de pesquisa, métodos de pesquisa (estratégias) e técnicas de coleta e de análise de dados, indicando que a ontologia (nossa forma de entender como as coisas são) determina a nossa epistemologia (a forma como entendemos que o conhecimento é gerado) e ambas, por sua vez, originam diferentes paradigmas de pesquisa, dentro dos quais diferentes métodos podem ser utilizados, assim como diferentes técnicas de coleta e de análise de dados.

Zanela Saccol, Amarolinda (2009). Um retorno ao básico: Compreendendo os paradigmas de pesquisa e sua aplicação na pesquisa em administração. Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, 2(2),250-269.[fecha de Consulta 17 de Diciembre de 2019]. ISSN: . Disponible en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=2734/273420378007

Critérios para seleção de problema

Oliveira (2011) indica que após a escolha e a delimitação do tema, o próximo passo é a transformação do tema em problema. “Problema é uma questão que envolve intrinsecamente uma dificuldade teórica ou prática, para a qual se deve encontrar uma solução”. A primeira etapa de uma pesquisa é a formulação do problema, que deve ser na forma de pergunta. O autor cita Rudio (1980) que argumenta que formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e apresentando suas características. Desta forma, o objetivo da formulação do problema é torná-lo individualizado, específico, inconfundível.

Já Lakatos & Marconi (1992) apud Oliveira (2011), indicam que para ser considerado apropriado, o problema deve ser analisado sobre os seguintes aspectos de valoração: viabilidade, relevância, novidade, exequibilidade e oportunidade. Complementam colocando que “desde Einstein, acredita-se que é mais importante para o desenvolvimento da ciência saber formular problemas do que encontrar soluções”. Cervo & Bervian (2002) complementam ao indicar que o problema de pesquisa é uma pergunta que deve ser redigida de forma clara, precisa e objetiva, cuja solução seja viável pela pesquisa. Geralmente, a elaboração clara do problema é fruto da revisão de literatura e da reflexão pessoal.

OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de. Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em Administração. Catalão: UFG, 2011.

Resultados e implicações de uma investigação

Alves-Mazzotti (2001) argumenta que a aplicabilidade dos conhecimentos na área da educação depende do desenvolvimento de teorias próprias, da seleção adequada de procedimentos e instrumentos, da análise interpretativa dos dados, de sua organização em padrões significativos, da comunicação.

A mesma autora afirma ainda que não podemos abrir mão do compromisso com a produção de conhecimentos confiáveis, pois só assim estaremos contribuindo, tanto para desenvolver o instrumental teórico no campo da educação como para favorecer tomadas de decisão mais eficazes, substituindo as improvisações e os modismos.

ALVES-MAZZOTTI, A. J. Relevância e Aplicabilidade da Pesquisa em Educação. Cadernos de Pesquisas. Fundação Carlos Chagas. n. 113. São Paulo: Cortez, p.39-50, 2001.

Planejamento – plano de investigação

O planejamento da investigação pode ser feito de diversas formas, e uma das alternativas é a utilização de um cronograma. Kauark, Manhães e Medeiros (2010) afirmam que o Cronograma é a previsão de tempo que será gasto na realização do trabalho de acordo com as atividades a cumprir. As atividades e os períodos definir-se-ão a partir das características de cada pesquisa e dos critérios determinados pelo autor do trabalho. Os períodos podem se dividir em dias, semanas, quinzenas, meses, bimestres, trimestres. Este serão determinados a partir dos critérios de tempo adotados por cada pesquisador.

KAUARK, Fabiana da Silva. MANHÃES, Fernanda de Casto. MEDEIROS, Carlos Henrique. Metodologia da pesquisa : guia prático. Itabuna : Via Litterarum, 2010. 88p.

Problema: questões e objetivos de investigação

Alves (1991) argumenta que três tipos de situações são apontadas como origem de problemas de pesquisa: (a) lacunas no conhecimento existente; (b) inconsistências entre deduções decorrentes de teorias e resultados e pesquisas ou observações feitas na prática cotidiana, e; (c) inconsistências entre resultados de diferentes pesquisas ou entre estes e o que é observado na prática.

A mesma autora defende ainda que o fato de uma pesquisa se propor a compreensão de uma realidade específica, ideográfica, construída em condições vinculadas a um dado contexto, não a exime de contribuir para a produção do conhecimento. E a produção do conhecimento não é um empreendimento isolado; é um trabalho coletivo da comunidade científica, um processo que se desenvolve através da cooperação e da crítica. Assim, seja qual for a questão focalizada, exige-se que o pesquisador demonstre familiaridade com o estado do conhecimento sobre o tema para que possa situar o estudo proposto nesse processo, indicando qual a lacuna ou inconsistência no conhecimento anterior que o gerou. Mesmo ao estudar um caso específico, o pesquisador deverá sempre que possível, indicar a que fenômeno mais amplo o caso estudado se relaciona. Esta colocação da pesquisa proposta em perspectiva costuma ser feita numa seção introdutória que antecede a explicação do objetivo e ou questões de estudo.

ALVES, A. J. O Planejamento de Pesquisas Qualitativas em Educação. Cadernos de Pesquisas. Fundação Carlos Chagas. n. 77. São Paulo: Cortez, p.53-61, 1991.

Investigação básica e investigação aplicada

Fleury & Werlang (2017) A pesquisa social básica, ou pesquisa cientifica, não trata apenas de resenhas bibliográficas ou elucubrações genéricas. Ela visa produzir conhecimento por meio de conceitos, tipologias, verificação de hipóteses e elaboração de teorias que possuam relevância na disciplina acadêmica ancoradas de determinadas escolas de pensamento. 

Os autores citam Thiollent que indica que a pesquisa aplicada concentra-se em torno dos problemas presentes nas atividades das instituições, organizações, grupos ou atores sociais. Ela está empenhada na elaboração de diagnósticos, identificação de problemas e busca de soluções. Responde a uma demanda formulada por “clientes, atores sociais ou instituições”.

Para diferenciar a pesquisa científica e aplicada, argumentam ainda que elas não são mutuamente exclusivas, pois a ciência objetiva tanto o conhecimento em si mesmo quanto as contribuições práticas decorrentes desse conhecimento.

Referência bibliográfica:

FLEURY, Maria Tereza Leme; WERLANG, Sérgio. Pesquisa aplicada: conceitos e abordagens. GV Pesquisa, anuário de pesquisa 2016-2017. 2017. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/apgvpesquisa/article/viewFile/72796/6998.

Característica do conhecimento científico

França (1994) defende que conhecer é a atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero “dar-se conta de”, e significa a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que suscita sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido – que já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim, modelos de apreensão – que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros.

Referência bibliográfica:

FRANÇA, Vera Regina Veiga. Teoria(s) da Comunicação: busca de identidade e de caminhos. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, BELO HORIZONTE, v.23, n.2, p.138-152, jul./dez. 1994.

Investigação científica, ciência e conhecimento científico

Theophilo (1988) argumenta que os diversos autores costumam classificar o conhecimento em popular, filosófico, religioso (teológico) e científico. O conhecimento científico diferencia-se dos demais, não pelo seu objeto de estudo, mas pela forma como é obtido. Conforme definição de Trujillo: ”A ciência é todo um conjunto de atitudes e de atividades racionais, dirigido ao sistemático conhecimento, com objetivo limitado e capaz de ser submetido à verificação.

Ogburn e Nimkoff. apud Lakatos (1995) indicam que a ciência é reconhecida por três critérios: a confiabilidade do seu corpo de conhecimentos, sua organização e seu método. Em função disso, as ciências sociais, por não possuírem as mesmas características das chamadas ciências naturais, como a química, a física e a biologia, são às vezes contestadas quanto à confiabilidade dos seus conhecimentos.

A mesma autora, Lakatos (1995) pondera, entretanto, que essa discussão perdeu intensidade e para tanto cita Caplow, o qual afirma: Mesmo que os resultados obtidos pelas Ciências Físicas sejam, geralmente, mais precisos ou dignos de crédito ao que os das Ciências Sociais, as exceções são numerosas (…) A Química é, muitas vezes, menos precisa do que a Economia.

Referências bibliográfica:

THEOPHILO, Carlos Renato. Algumas Reflexões sobre pesquisas empíricas em Contabilidade. Caderno de Estudos, São Paulo, FIPECAFI, v.10, n.19, p.9 – 15, setembro/dezembro 1998.

LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia cientifica 2, ed. São Paulo: Atlas, 1995, p.20.

Notas sobre o Paradigma Naturalista ou Relativista (aula síncrona)

Paradigma Naturalista ou Relativista

  • A ideia central não é explicar, nem generalizar e sim compreender os contextos, as pessoas no espaço e tempo em que foram ouvidas ou observadas;
  • Nem sempre há constatações, podemos observar resultados diferentes e isso é importante e significativo para o estudo;
  • No desenho da metodologia, desenha-se o processo de recolha de dados que pode modificar-se à medida que eles estão a ser recolhidos e analisados;
  • Os dados levantados através de entrevistas, por exemplos, traz as perspetivas que o entrevistado está a valorizar e a análise que se faz desses dados é o que permite chegar a um corpo de ideias ou “teorias”;
  • Está mais associada à pesquisa qualitativa por se basear na análise da linguagem, análise semântica, no significado que as pessoas dão às coisas;
  • A entrevista é um bom instrumento de recolha de dados, pois permite às pessoas expor suas ideias e o investigador pode ir mais em profundidade, numa perspetiva mais “clínica”;
  • Nos fenómenos da educação não há leis, os fenómenos variam de acordo com o contexto das pessoas, por exemplo;
  • Não é necessário levantar hipóteses e sim retirar informações dos dados recolhidos e chegar a conclusões que talvez nem sequer tivessem em alguma teoria;
  • Mais utilizado nas investigações das Ciências Humanas e Sociais.

Ao desenvolver um trabalho de investigação, precisamos definir em qual paradigma vamos nos situar para estudar tal fenómeno e, a partir daí, escolher quais os procedimentos, métodos, técnicas de recolhas de dados.  Essas metodologias podem, em algum momento, serem mistas, por exemplo, ao explorar um questionário em função de algo que se pretenda estudar na pesquisa qualitativa. Mas não podemos falar em paradigma misto, pois paradigma é uma forma de ver o mundo. Portanto, não misturamos paradigmas.

Sobre ética: pode ser vista de diferentes desenhos, mas basicamente, a ideia central é salvaguadar o sigilo dos dados recolhidos e ter cuidados com certos tipos de utilizações que se faz com desses dados.

Notas sobre o Paradigma Científico ou Positivista (aula síncrona)

Paradigma Científico ou Positivista

  • Baseado num método científico para estudar os fenómenos partindo do pressuposto que eles podem ser medidos, observados…;
  • O observador deve-se manter neutro (não influenciar nas análises e conclusões). Ele é exterior ao fato/fenómeno observado;
  • O fenómeno é passível de ser explicado e comprovado após novas medições;
  • Utiliza amostra construída com certo rigor para fazer generalizações;
  • A partir da revisão da literatura, levantam-se hipóteses. Após a recolha de dados, as hipóteses podem ser verificadas ou não (lógica dedutiva);
  • Está mais associada à pesquisa quantitativa por se basear numa lógica mais confirmatória, da estatística para medir os fatos;
  • Pensamento dedutivo: vai à teoria, identifica um problema, formula hipóteses e recolhe dados para verificar ou não uma hipótese;
  • Os fenómenos das Ciências Naturais são mais consistentes, portanto é possível determinar regras e leis;
  • O questionário com perguntas fechadas é um bom instrumento de recolha de dados, pois permite captar com números as informações e fazer um tratamento estatístico;
  • Mais utilizado nas investigações das Ciências Naturais.

O método científico positivista numa abordagem mais racionalista nem sempre é o mais adequada para estudar os fenómenos relacionados às Ciências Humanas e Sociais. Esses fenómenos muitas vezes são inconsistentes, dependem do modo como os indivíduos os interpreta.  E ao fazer uma investigação em Educação temos que ter em consideração essa complexidade.

A realidade das Ciências Naturais é diferente da realidade das Ciências Humanas e Sociais. Por isso, nos últimos anos tem havido um deslocamento da perspetiva quantitativa para qualitativa. No entanto, há necessidade de se tomar certos cuidados na investigação para que a abordagem naturalista seja considerada ciência, para que ela se aproxime mais da perspetiva aceita como científica.

Técnicas e instrumentos de pesquisa

Olá caros colegas e investigadores!

Esse é último vídeo da série que postei nesse blogue. Ele traz informações e exemplos práticos sobre as técnicas e instrumentos que os pesquisadores utilizam para recolher, analisar dados e chegar aos seus objetivos. Muitas informações aqui transmitidas estão alinhadas com os assuntos tratados nas aulas síncronas do professor Fernando e de acordo com as leituras que ele nos propôs a realizar na disciplina de Metodologia de Investigação I.

Seguem abaixo alguns excertos do vídeo que mais contribuem com o tipo de investigação que pretendemos realizar nesse curso, que é a pesquisa de campo. No entanto, outras informações tratadas nesse vídeo sobre a pesquisa documental, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa-ação trazem alguns aspectos e perspetivas importantes para serem consideradas na construção da nossa metodologia de investigação. Por exemplo: a importância de se fazer uma “análise de conteúdo”, buscar oportunidades para conhecer melhor sobre os autores que cada um ser propôs utilizar na revisão de literatura, qual a importância do orientador para auxiliá-lo a demilitar melhor o seu foco de interesse, dentre outros assuntos.

Excertos do vídeo sobre a pesquisa de campo:

“A observação e a entrevista são duas técnicas ou dois instrumentos que se complementam.Quem entrevista tem que observar e quem observa acaba entrevistando ainda que de maneira informal.”

A pesquisadora do vídeo dá algumas dicas práticas sobre o registro que deve ser feito após a observação. Ela relata que, para realizá-lo, segue alguns procedimentos que é o de ampliar o registro feito em campo. Esse registro deve ser feito entre 24 ou 48 horas depois da visita para tentar ser o mais fiel possível ao que aconteceu durante a observação. Deve-se colocar no papel tudo que você conseguir lembrar.

Espero, através desse vídeo, ter contribuído para ampliar seus conhecimentos sobre investiação científica.

Abraço,

Adriana Braga

Modalidades de Pesquisa em Educação

Olá caros colegas e investigadores,

Gostava de partilhar convosco mais esse vídeo com exemplos práticos sobre as “Modalidades de Pesquisa em Educação” e os métodos utilizados como pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa-ação e pesquisa de campo. Essa última é a que mais se assemelha com o trabalho que estamos propondo fazer de investigação em Educação, ou mais especificamente, do uso das Tecnologias na Educação.

Segue alguns excertos do vídeo:

“A pesquisa (investigação) tem como intenção desvendar o mundo.”

“Pesquisas qualitativas são as mais comuns na educação, isso não quer dizer que não exista pesquisa quantitativa.”

“A pesquisa qualitativa vai me permitir a aproximação com os sujeitos, enquanto na pesquisa quantitativa eu vou trabalhar com os dados brutos oriundos das provas ou de questionários de larga escala.”

“Para iniciar qualquer tipo de pesquisa, o pesquisador geralmente faz uma revisão bibliográfica”, para saber o que já se tem pesquisado sobre aquele assunto.

Dentre todas as modalidades, que me parece, em algum momento poderemos utilizá-las, considerei interessante as práticas da pesquisa-ação que está associada a pesquisa com uma intervenção.

“Pesquisa-ação: os participantes deixam de ser “objetos” de estudo para serem pesquisadores, produtores de conhecimentos sobre sua própria realidade. O sujeito que vive a realidade socioambiental em estudo é, portanto, um sujeito-parceiro das investigaçãoes definidas participativamente; ou ainda um pesquisador comunitário que constrói e produz conhecimentos sobre essa realidade em parceria com aquele que seria identificado, numa outra modalidadede pesquisa, como pesquisador acadêmico.”

Sobre a pesquisa de campo:

“Uma questão inicial que eu tinha era: quem são os bons alunos? como se produz um bom aluno? o que se sabe sobre eles? Foi com estas questões que eu fui a campo. Eu comecei em duas escolas, depois, com o volume de material em tive que me concentrar em apenas uma.”

Esse é um relato sobre uma pesquisa de campo, que como eu havia dito anteriormente, se assemelha mais com o tipo de pesquisa que pretendemos desenvolver nesse curso. No vídeo, a pesquisadora faz um relato de sua experiência na abordagem feita ao diretor ao chegar à escola e como foi o percurso para recolha de dados através da observação, tomada de notas e conversas.

Espero que, assistir esse vídeo, tenha sido útil para vocês como foi para mim, para compreender alguns conceitos.

Abraços,

Adriana Braga