Segundo André (1983) a Análise qualitativa visa apreender o caráter multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural, bem como captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a compreensão do indivíduo no seu contexto e se caracteriza por ser um processo indutivo que tem como foco a fidelidade ao universo de vida cotidiano dos sujeitos, estando baseada nos mesmos pressupostos da chamada pesquisa qualitativa.

As três características essenciais da pesquisa qualitativa, indicadas por Patton (1986) e retomadas por Alves (2013), asseguram uma investigação completa em função dos objetivos de análise. A visão holística prevê a análise das diversas inter-relações que emergem em um dado contexto para a compreensão de determinado fenômeno; a abordagem indutiva pressupõe liberdade do pesquisador para a definição de dimensões e categoriais de análise durante o processo de coleta e análise de dados, conforme se revelam relevantes para a compreensão do fenômeno; e a investigação naturalística concebe a intervenção mínima do pesquisador no contexto investigado.

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Creswell (2007) propõe uma grelha de análise do processo sugerido em passos definidos:

“(1) Extraia um sentido do todo. Leia todas as transcrições cuidadosamente. Talvez você deva tomar nota das ideias à medida que elas lhe venham à cabeça. (2) Escolha um documento. (3) Faça uma lista de todos os tópicos. Agrupe os tópicos similares. Organize esses tópicos em colunas que possam ser classificadas como tópicos principais, tópicos singulares e outros. (4) Agora tome essa lista e volte aos seus dados. Abrevie os tópicos como códigos e escreva os códigos próximos dos segmentos apropriados do texto. Tente esse esquema de organização preliminarmente, para ver se surgem novas categorias e novos códigos. (5) Encontre a redação mais descritiva para seus tópicos e transforme-os em categorias. Procure formas de reduzir sua lista total de categorias, agrupando tópicos que se relacionem entre si. (6) Ponha os códigos em ordem alfabética. (7) Reúna o material dos dados pertencentes a cada categoria em um único local e faça uma análise preliminar. (8) Se necessário, recodifique seus dados existentes” (Creswell, 2007, p. 196).

“A análise está presente em vários estágios da investigação, tornando-se mais sistemática e mais formal após o encerramento da coleta de dados” (André; Lüdke, 1986, p.45). Segundo André e Lüdke (1986), analisar os dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos das observações, as transcrições de entrevistas, as análises de documentos e as demais informações disponíveis (p.45).

Na investigação em Educação, maioritariamente baseada em evidências de carácter qualitativo, é comum encontrarem-se diversas barreiras no que toca à “credibilidade das estratégias qualitativas de investigação” adotadas (Amado, 2014, p. 353).

Segundo Minayo (1992, apud Gomes 2004), podem ocorrer três tipos de obstáculos a uma análise efetiva dos dados, são eles:

O primeiro diz respeito à ilusão do pesquisador em ver as conclusões, à primeira vista, como “transparentes”, ou seja, pensar que a realidade dos dados, logo de início, se apresenta de forma nítida aos seus olhos […]. O segundo obstáculo se refere ao fato de o pesquisador se envolver tanto com os métodos e as técnicas a ponto de esquecer os significados presentes em seus dados […]. Por último, o terceiro obstáculo para uma análise mais rica da pesquisa relaciona-se à dificuldade que o pesquisador pode ter em articular as conclusões que surgem dos dados concretos com conhecimentos mais amplos ou mais abstratos. Esse fato pode produzir um distanciamento entre a fundamentação teórica e a prática da pesquisa (p.68)

Segundo Zanette (2017, p. 159) “o uso do método qualitativo gerou diversas contribuições ao avanço do saber na dinâmica do processo educacional e na sua estrutura como um todo: reconfigura a compreensão da aprendizagem, das relações internas e externas nas instâncias institucionais, da compreensão histórico-cultural das exigências de uma educação mais digna para todos e da compreensão da importância da instituição escolar no processo de humanização”.

Gatti e André (2011, p. 34 apud Zanette) destacam quatro pontos importantes desta contribuição:

1) A incorporação, entre os pesquisadores em Educação, de posturas investigativas mais flexíveis e com maior adequação para estudos de processos micro-sócio-psicológicos e culturais, permitindo iluminar aspectos e processos que permaneciam ocultados pelos estudos quantitativos. 2) A constatação de que, para compreender e interpretar grande parte das questões e problemas da área de Educação, é preciso recorrer a enfoques multi/inter/transdiciplinares e a tratamentos multidimensionais. 3) A retomada do foco sobre os atores em educação, ou seja, os pesquisadores procuram retratar o ponto de vista dos sujeitos, os personagens envolvidos nos processos educativos. 4) A consciência de que a subjetividade intervém no processo de pesquisa e que é preciso tomar medidas para controlá-la.

Referências

Alves, A. J. (2013). O planeamento de pesquisas qualitativas em educação. Cadernos de pesquisa, (77), 53-61.

André, M. E. D. A. (1983). Texto, contexto e significado: algumas questões na análise de dados qualitativos. Cadernos de Pesquisa, (45): 66-71.

Creswell, J. W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Trad. Luciana de Oliveira da Rocha. 2.ª ed. Porto Alegre: Artmed.

Gomes, R. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa Social. 23.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.

Lüdke, M. André, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

Zanette, M. S. (2017). Pesquisa qualitativa no contexto da Educação no Brasil. Doi: 10.1590/0104-4060.47454. Instituto Vianna Junior. Curso Veritas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/n65/0104-4060-er-65-00149

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