Paradigmas da Investigação Científica

O que é um paradigma?

Este conceito foi criado por Thomas Kuhn, em sua obra “The Structure of Scientific Revolution“, de 1962. Uma pequena síntese das principais contribuições desta obra pode ser consultada neste link; ela foi elaborada pelo Professor Silvio Chibeli, do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Brasil.

De acordo com Lukas e Santiago (2004), paradigma é “um conjunto de práticas científicas ou de investigação que em um espaço de tempo são aceitas de forma generalizada e que proporcionam um marco de trabalho, uns problemas e umas soluções”.

Para Coutinho (2014), os paradigmas permitem unificar e legitimar a investigação, tanto nos aspectos conceituais como nos metodológicos, ou seja, garante ao pesquisador uma orientação nos momentos de delimitação de um problema, recolha de dados e interpretação dos resultados.

Na área das Ciências Sociais e Humanas são considerados, majoritariamente, três grandes paradigmas: Positivismo, Relativismo e Crítico, os quais serão abordados a seguir.

Paradigma Positivista

Derivado das ideias de Augusto Comte, criador da escola positivista e considerado o pai da Sociologia. Ele considerava que a ciência é o único verdadeiro tipo de conhecimento, gerado a partir da experiência, e deve ser prático e não especulativo. Criou também a teoria dos três estágios de desenvolvimento, para explicação dos fenômenos naturais: teológico (mais primitivo explicados pelo misticismo), metafísico (explicados por causas e leis sem comprovação) e científico (mais avançado – explicados por experimentos científicos – onde se encontra o Positivismo).

Para mais detalhes sobre Augusto Comte e o Positivismo, recomendo o vídeo abaixo, do Canal didatics, disponível no Youtube: https://youtu.be/mFizxyWzq0E

Segundo Lukas e Santiago (2004), o objetivo geral do Positivismo é aumentar o conhecimento; este deve ser sistemático, comprovável, mensurável e replicável. O investigador, neste contexto, deverá levantar hipóteses e submetê-las a comprovação empírica sob rigoroso controlo experimental (Coutinho, 2014).

Os fenômenos educativos sob a lógica positivista são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA POSITIVISTA – EDUCAÇÃO
VariáveisEstudam-se relações entre variáveis da realidade educativa.
TeoriasSão universais e podem ser utilizadas para compreender qualquer contexto educativo.
InvestigadorPermanece neutro durante toda a investigação.
MetodologiaMuito rigorosa, principalmente na análise dos dados.

Como podemos observar, o Positivismo não permite explicar toda a complexidade do comportamento humano e, portanto, tem enfrentado muitas críticas na área das Ciências Sociais e Humanas.

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Paradigma Humanista/Naturalista

Este paradigma busca compreender o significado das ações humanas, construídas ao longo de suas interações sociais. Tem raízes na Antropologia, Sociologia e na Psicologia. Surgiu principalmente pela verificação de que o paradigma positivista não era suficiente para compreender o significado e interpretações dos sujeitos para situações cotidianas.

Como poderíamos utilizar leis gerais para explicar o comportamento de um indivíduo, que é único e influenciado por múltiplos fatores socioculturais? Os investigadores então, nesta perspectiva, procuram penetrar no mundo conceitual dos seus sujeitos, com o objetivo de compreender qual o significado que constroem dos acontecimentos de seu cotidiano, além das ideias preconcebidas (Coutinho, 2014).

Há uma reflexão contínua e um envolvimento emocional do investigador, além da interação dinâmica com o objeto de estudo (Gunther, 2006).

Os fenômenos educativos sob a lógica humanista são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA HUMANISTA – EDUCAÇÃO
VariáveisEstudadas de forma holística, pois as realidades são múltiplas.
TeoriasSe fundamentam em valores sociais que mudam com o tempo; dependem do contexto estudado.
InvestigadorÉ estimulado a explicitar sua interpretação sobre o fenômeno e interagir com o objeto de estudo.
MetodologiaApresenta várias vias metodológicas, adaptadas ao objeto de estudo e ao caso específico.

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Paradigma Crítico

É muito próximo do paradigma humanista porém, tem como objetivo analisar os fenômenos sociais de forma crítica, buscando transformar as realidades sociais e torná-las mais justas. Originou-se no século XX, na Escola de Frankfurt, criada na Universidade de Frankfurt – Alemanha, onde os filósofos Max Horkheimer e Theodor W. Adorno eram os principais representantes.

As investigações sob esta perspectiva se orientam sob um compromisso ideológico, que resulta em conhecimentos voltados para a emancipação humana. Como contempla um grupo heterogêneo de interesses, principalmente de grupos marginalizados pela sociedade, apresenta diferentes abordagens de investigação.

Os fenômenos educativos sob a lógica crítica são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA CRÍTICA – EDUCAÇÃO
VariáveisPercepções individuais da realidade, influenciadas por valores da sociedade.
TeoriasTeoria e prática formam um todo indissociável e não existem teorias universais.
InvestigadorOs participantes são também investigadores e os investigadores também participam da ação social.
MetodologiaColaboração entre investigador e participantes.

RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, segue abaixo um Mapa Conceitual com os principais pontos abordados (Clique sobre a imagem para ampliá-la):

Mapa Conceitual “Paradigmas da Investigação Científica”.

REFERÊNCIAS

Coutinho, C (2014). Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, Teoria e Prática. Edições Almedina.

Günther, H (2006). Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 22 n. 2, pp. 201-210.

Lukas, J. F.; Santiago, K (2004). Evaluación Educativa. Edição da Alianza Editorial, Madrid.