O QUESTIONÁRIO, O FORMULÁRIO E A ENTREVISTA COMO INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Hoje, quando caminhava no bairro, fui interpelado por uma pesquisadora do Datafolha.

Após as considerações iniciais, ligadas à questão ética, vieram as perguntas do extenso questionário. “Ô” coisa chata responder em pé na calçada. Não poderia ser em uma padaria?

Primeiro faz-se um inventário do entrevistado. Quantos veículos possui, quantos banheiros tem na casa, geladeira, freezer, micro-onda, máquina de lavar, secadora, lavadora de louças, notebook, celular, tem gato, cachorro, periquito, ufa!

Depois vem o principal, com uma série de perguntas tendenciosas que levam à escolha do banco digital ideal. Uau!

Foi aí que eu me revoltei (de novo) e disse que a ordem das questões estava equivocada. Mas a pesquisadora (ou seria entrevistadora?) nada podia fazer a não ser seguir o script. Sendo assim, numa escala de 0 a 10, falei para ela anotar 5 em tudo.

Quando eu achei que tinha terminado ela veio com a pérola das pérolas: “Você é o chefe da casa?” Pqp (desculpe a nossa falha intencional), como assim garota? Estamos no século XXI e você me pergunta isso? Me reservo o direito de permanecer em silêncio.

A gente lê Andrade (2009), Bertucci (2008), Lakatos (2003), Gil (2002), Prodanov (2013), Silva, (2001), entre outros e aprende que: “A coleta de dados pode ser considerada um dos momentos mais importantes da realização de uma pesquisa”.

E agora José? Como diria Carlos Drumont de Andrade…

Métodos de Investigação

No post sobre a Natureza da Investigação Científica, iniciamos a discussão sobre a definição de Problemas de Pesquisa. Agora, vamos seguir para o próximo passo: a escolha e aplicação do Método de Investigação.

No contexto da investigação científica, podemos definir “Método” como um conjunto de instrumentos e técnicas para recolher, organizar, analisar e comunicar os dados de uma investigação.

Por exemplo:

  • Para atender a um Método Quantitativo, podemos elaborar checklists ou testes de múltipla escolha como instrumentos de recolha de dados e análise estatística como técnica para analisar os dados;
  • Para atender a um Método Qualitativo, podemos elaborar guiões de entrevista ou um diário do investigador como instrumentos de recolha de dados e utilizar uma análise de conteúdo como técnica para analisar os dados;
  • Para atender a um Método Misto, podemos elaborar um questionário ou ficha de leitura como instrumentos de recolha de dados e utilizar uma análise de conteúdo e estatística como técnicas para analisar os dados.
  IMPORTANTE: A escolha do método depende dos objetivos de investigação.  

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estratégias QUALITATIVas

Segundo Creswell (2007), os processos qualitativos se baseiam em dados de texto e imagem, têm passos únicos na análise de dados e usam estratégias diversas de investigação. Vamos citar cinco delas:

Narrativa: recriação das histórias dos participantes. É solicitado a eles que discorram sobre o tema proposto, de acordo com uma ordem cronológica. Ao pesquisador cabe organizar estes dados e analisá-los.

Fenomenologia: análise de declarações significantes, em busca de sua “essência”. Há ênfase no indivíduo e em sua subjetividade.

Estudo de Caso:  individuais ou unidades molares que partilham uma característica em comum (família, comunidade) ou um amplo fenômeno social: Objetivo: ampliar a validade externa das mesmas (Aires, 2015).

Etnografia: estuda o compartilhamento de cultura de pessoas ou grupos, sem partir de pressupostos ou expectativas. O objetivo deste tipo de investigação é descobrir ou gerar uma teoria; não é provar nenhuma teoria determinada (Álvarez, 2011).

Teoria baseada na realidade: diferentemente do estabelecido pelo método científico tradicional, esta estratégia não se inicia com uma hipótese mas sim, a partir da coleta de dados, sua categorização e análise. O objetivo final é criar uma teoria a partir das análises realizadas.

Para escolher entre uma delas, é necessário levar em conta suas informações históricas, descrição, aplicações, o motivo dela ser apropriada e como influenciará os passos da pesquisa.

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O PAPEL DO INVESTIGADOR

Não é possível evitar a interpretação pessoal do investigador em todos os passos de uma pesquisa qualitativa; inclusive também há envolvimento de seus participantes. Sendo assim, o investigador precisa ter uma visão holística do fenômeno social estudado e, enquanto se aprofunda no tema, deverá refletir sobre sua própria prática e mudar protocolos ou questões de pesquisa, se preciso. Esta ação faz parte de toda pesquisa qualitativa, o que a torna única e dinâmica.

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instrumentos de recolha de dados

Neste post, vamos analisar dois instrumentos de recolha de dados, Entrevista e Questionário e uma técnica, a Observação, majoritariamente utilizados na pesquisa qualitativa:

1- Entrevista:

É uma conversa com os participantes da pesquisa, com o objetivo de verificar o sentido que atribuem a um determinado acontecimento do passado, ao seu cotidiano ou a um problema específico. As Entrevistas “são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados” (Duarte, 2004).

Nesta conversa, o entrevistador (investigador) não propõe perguntas para o entrevistado; é o próprio entrevistador que deve, após a entrevista, ressignificar o que foi dito e responder às perguntas que surgirem.

Os tipos de entrevista são:

  • Semi-dirigida: Preparação de uma estrutura de entrevista, em função do objetivo pretendido.
  • Centrada: entrevistador guia a entrevista a partir de uma lista de tópicos
  • Em profundidade: utilizada no âmbito de histórias de vida

2- Questionário

É um instrumento de características mais positivistas, sendo muito mais exigente do que uma entrevista, pois é necessário estabelecer uma amostra representativa da população estudada e um conjunto de questões validadas por especialistas no assunto, a serem propostas aos participantes. O objetivo é conhecer esta população a partir da amostra selecionada e/ou entender um fenômeno social a partir da perspectiva destes participantes.

Os tipos de questionário são de:

  • Administração Indireta: o investigador preenche o questionário com base nas respostas do participante.
  • Administração Direta: o participante preenche o questionário diretamente.
  • Administração online: é disponibilizado um link do formulário para preenchimento online.

A perguntas de um questionário podem ser classificadas em perguntas abertas: o participante responde com suas próprias palavras; perguntas fechadas ou dicotômicas: são oferecidas alternativas de resposta; perguntas hierarquizadas: com múltiplas opções para serem assinaladas por ordem de importância, e perguntas em forma de lista: com múltiplas opções, porém as respostas devem apresentar um grau de intensidade crescente ou decrescente (Álvarez, 2011).

3- Observação

Na observação, “o pesquisador toma notas de campo sobre comportamento e atividades das pessoas no local de pesquisa” (Creswell, 2007). Com esta técnica é possível recolher a informação em tempo real, in loco e de forma espontânea, permitindo contato direto do investigador com o objeto ou fenômeno estudado.

Para realizar uma observação, o investigador precisa determinar onde será realizada, qual será o universo e a amostra, a frequência e os períodos de observação, quais serão os acontecimentos ou condutas a observar e qual formato será utilizado (Álvarez, 2011):

  • Esquema padronizado ou Flexível? Uma estrutura padronizada facilita a delimitação e seleção de situações relevantes, enquanto a flexível pode resultar em material espontâneo e levantar novas questões.
  • Observador participante ou sem interferência? Observador visível ou não visível? No modelo de observador participante, o observador deve se entregar sem restrições, viver, pensar e sentir como aqueles que se pesquisa; ou seja, se despersonalizar. Já o distanciamento (princípio de exclusão do observador) é a via de acesso a um conhecimento objetivado. O modelo de não interferência considera a neutralidade do sujeito como via de acesso ao saber. (Jaccoude e Mayer, 2008).
A observação também permite fazer triangulações, ou seja, logo após a observação, o investigador pode realizar entrevistas e assim obter várias fontes de dados. 

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Quais seriam então os passos de um investigador qualitativo para organizar dados de pesquisa tão abrangentes e provenientes fontes complexas ou tão diferentes?

Podemos conferir abaixo:

Quadro 1. Passos de um investigador qualitativo. Elaborado por Priscilla Ribeiro baseado na obra de Creswell (2007).

Neste quadro, estão sistematizados seis passos gerais para orientação de um investigador após a coleta de dados para a pesquisa. Obviamente estes passos necessitam de adaptações e especificações, dependendo da estratégia de investigação utilizada.

Por exemplo, para um estudo de caso, o passo 1 “Organizar os dados” será realizado de forma diferente de uma pesquisa narrativa, pois partem de materiais de coleta de conteúdo e formatos diferentes.

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RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, consulte o Mapa Conceitual abaixo, elaborado sobre o tema (Clique sobre a imagem para ampliá-la).

Mapa Conceitual “Métodos de Investigação”.

REFERÊNCIAS

Aires, L. (2015). Paradigma qualitativo e práticas de investigação educacional. Lisboa: Universidade Aberta. E-book disponível em http://hdl.handle.net/10400.2/2028

Álvarez, C. A. M (2011). Metodología de la investigación cuantitativa y cualitativa. Guia didáctica. Disponível em https://www.uv.mx/rmipe/files/2017/02/Guia-didactica-metodologia-de-la-investigacion.pdf

Creswell, J.W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

Duarte, R. (2004). Entrevistas em Pesquisas Qualitativas. Educar, n. 24, p. 213-225. Curitiba, Editora UFPR.

Jaccaud, M.; Mayer, R (2008). A observação direta e a pesquisa qualitativa. In A pesquisa qualitativa : enfoques epistemológicos e metodológicos. tradução de Ana Cristina Nasser – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.