Paradigmas da Investigação

Um paradigma é um conjunto articulado de postulados, de valores conhecidos, de teorias comuns e regras que são aceites por todos os elementos de uma comunidade num dado momento histórico. (Coutinho, 2005).

A primeira edição do Handbook of qualitative research, Guba e Lincoln (1994) apresentaram os vários paradigmas de investigação com base em critérios ontológicos, epistemológicos e metodológicos. Segue abaixo um quadro com a Síntese da Sistematização de paradigmas de investigação proposta por Lincoln, Lynham e Guba [2011]:

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Sistematização de paradigmas de investigação proposta por Lincoln, Lynham e Guba [2011]. Imagem disponível em: http://journals.openedition.org/ras/docannexe/image/373/img-1.png

Estudiosos (as), como Clara Coutinho, Gabriel Salomon e Kenneth Howe, acreditam que os paradigmas são diferentes a nível ontológico e epistemológico, mas aceitam que o investigador não tenha de se enquadrar em somente um deles, elegendo o único e o melhor. Defende-se, por outro lado “a complementaridade de métodos quantitativos e qualitativos em função do que se afigura ser a melhor solução do problema a estudar: a integração da unidade epistemológica, rejeitando o conceito de confronto entre paradigmas e advogando alternativas que integrem ou superem o velho confronto.” (COUTINHO, 2011, p. 30).

Referências

Coutinho, C. M. G. F. P. (2005). Percursos da Investigação em Tecnologia Educativa em Portugal: Uma abordagem Temática e metodológica a publicações cientificas (1985-2000), Braga, Universidade do Minho

Coutinho, C. (2011). Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas: Teoria e Prática. Coimbra: Almedina.

A Análise Qualitativa de Dados na Educação

Segundo André (1983) a Análise qualitativa visa apreender o caráter multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural, bem como captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a compreensão do indivíduo no seu contexto e se caracteriza por ser um processo indutivo que tem como foco a fidelidade ao universo de vida cotidiano dos sujeitos, estando baseada nos mesmos pressupostos da chamada pesquisa qualitativa.

As três características essenciais da pesquisa qualitativa, indicadas por Patton (1986) e retomadas por Alves (2013), asseguram uma investigação completa em função dos objetivos de análise. A visão holística prevê a análise das diversas inter-relações que emergem em um dado contexto para a compreensão de determinado fenômeno; a abordagem indutiva pressupõe liberdade do pesquisador para a definição de dimensões e categoriais de análise durante o processo de coleta e análise de dados, conforme se revelam relevantes para a compreensão do fenômeno; e a investigação naturalística concebe a intervenção mínima do pesquisador no contexto investigado.

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Creswell (2007) propõe uma grelha de análise do processo sugerido em passos definidos:

“(1) Extraia um sentido do todo. Leia todas as transcrições cuidadosamente. Talvez você deva tomar nota das ideias à medida que elas lhe venham à cabeça. (2) Escolha um documento. (3) Faça uma lista de todos os tópicos. Agrupe os tópicos similares. Organize esses tópicos em colunas que possam ser classificadas como tópicos principais, tópicos singulares e outros. (4) Agora tome essa lista e volte aos seus dados. Abrevie os tópicos como códigos e escreva os códigos próximos dos segmentos apropriados do texto. Tente esse esquema de organização preliminarmente, para ver se surgem novas categorias e novos códigos. (5) Encontre a redação mais descritiva para seus tópicos e transforme-os em categorias. Procure formas de reduzir sua lista total de categorias, agrupando tópicos que se relacionem entre si. (6) Ponha os códigos em ordem alfabética. (7) Reúna o material dos dados pertencentes a cada categoria em um único local e faça uma análise preliminar. (8) Se necessário, recodifique seus dados existentes” (Creswell, 2007, p. 196).

“A análise está presente em vários estágios da investigação, tornando-se mais sistemática e mais formal após o encerramento da coleta de dados” (André; Lüdke, 1986, p.45). Segundo André e Lüdke (1986), analisar os dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos das observações, as transcrições de entrevistas, as análises de documentos e as demais informações disponíveis (p.45).

Na investigação em Educação, maioritariamente baseada em evidências de carácter qualitativo, é comum encontrarem-se diversas barreiras no que toca à “credibilidade das estratégias qualitativas de investigação” adotadas (Amado, 2014, p. 353).

Segundo Minayo (1992, apud Gomes 2004), podem ocorrer três tipos de obstáculos a uma análise efetiva dos dados, são eles:

O primeiro diz respeito à ilusão do pesquisador em ver as conclusões, à primeira vista, como “transparentes”, ou seja, pensar que a realidade dos dados, logo de início, se apresenta de forma nítida aos seus olhos […]. O segundo obstáculo se refere ao fato de o pesquisador se envolver tanto com os métodos e as técnicas a ponto de esquecer os significados presentes em seus dados […]. Por último, o terceiro obstáculo para uma análise mais rica da pesquisa relaciona-se à dificuldade que o pesquisador pode ter em articular as conclusões que surgem dos dados concretos com conhecimentos mais amplos ou mais abstratos. Esse fato pode produzir um distanciamento entre a fundamentação teórica e a prática da pesquisa (p.68)

Segundo Zanette (2017, p. 159) “o uso do método qualitativo gerou diversas contribuições ao avanço do saber na dinâmica do processo educacional e na sua estrutura como um todo: reconfigura a compreensão da aprendizagem, das relações internas e externas nas instâncias institucionais, da compreensão histórico-cultural das exigências de uma educação mais digna para todos e da compreensão da importância da instituição escolar no processo de humanização”.

Gatti e André (2011, p. 34 apud Zanette) destacam quatro pontos importantes desta contribuição:

1) A incorporação, entre os pesquisadores em Educação, de posturas investigativas mais flexíveis e com maior adequação para estudos de processos micro-sócio-psicológicos e culturais, permitindo iluminar aspectos e processos que permaneciam ocultados pelos estudos quantitativos. 2) A constatação de que, para compreender e interpretar grande parte das questões e problemas da área de Educação, é preciso recorrer a enfoques multi/inter/transdiciplinares e a tratamentos multidimensionais. 3) A retomada do foco sobre os atores em educação, ou seja, os pesquisadores procuram retratar o ponto de vista dos sujeitos, os personagens envolvidos nos processos educativos. 4) A consciência de que a subjetividade intervém no processo de pesquisa e que é preciso tomar medidas para controlá-la.

Referências

Alves, A. J. (2013). O planeamento de pesquisas qualitativas em educação. Cadernos de pesquisa, (77), 53-61.

André, M. E. D. A. (1983). Texto, contexto e significado: algumas questões na análise de dados qualitativos. Cadernos de Pesquisa, (45): 66-71.

Creswell, J. W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Trad. Luciana de Oliveira da Rocha. 2.ª ed. Porto Alegre: Artmed.

Gomes, R. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa Social. 23.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.

Lüdke, M. André, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

Zanette, M. S. (2017). Pesquisa qualitativa no contexto da Educação no Brasil. Doi: 10.1590/0104-4060.47454. Instituto Vianna Junior. Curso Veritas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/n65/0104-4060-er-65-00149

Mapa conceitual – Projeto de Pesquisa

Síntese M1 – Investigação Científica

            Meu primeiro contato com a investigação científica foi na graduação. Minha monografia e pesquisas foram sobre o tema “A inclusão nas Séries Iniciais”. Minha pesquisa foi pautada em alguns materiais sugeridos pela minha orientadora e entrevistas realizadas na Instituição de Ensino onde atuava. Após alguns anos iniciei minha pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional, no qual tive como tema “Dislexia: Um dom ou distúrbio de linguagem”, baseado em vários materiais indicados por minha orientadora e outros no qual eu já havia realizado algumas leituras e pesquisas. Em ambas as formações tive um módulo sobre Investigação Científica, no qual recebi os conceitos básicos para realizar uma boa pesquisa. Mas o que é uma Investigação Científica/Pesquisa Científica?

Segundo Gil (2002) “Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema.”

Ao iniciarmos uma pesquisa é importante pensar que “[…] pesquisa científica não deve ser vista como uma atividade individual, simples produto da vocação ou interesse pessoal do pesquisador, ou como um dado abstrato, isolado da totalidade, mas como uma atividade socialmente condicionada” (Silva; Gamboa, 2014, p.49).

            Em síntese podemos dizer que os elementos básicos de um projeto de pesquisa é:

  • formulação do problema;
  • construção de hipóteses ou especificação dos objetivos;
  • identificação do tipo de pesquisa;
  • operacionalização das variáveis;
  • seleção da amostra;
  • elaboração dos instrumentos e determinação da estratégia de coleta de dados;
  • determinação do plano de análise dos dados;
  • previsão da forma de apresentação dos resultados;
  • cronograma da execução da pesquisa;
  • definição dos recursos humanos, materiais e financeiros a serem alocados.

Este deve ser:

  • Sistemático: Estruturado de forma coerente, com continuidade entre as partes.
  • Criterioso: Alicerçado nos critérios de validação científica e na correta conscientização dos termos. O autor deve indicar como, quando e onde obteve os dados de que se valeu para estabelecer suas afirmações e conclusões. Não se deve expor opiniões como se fossem fatos.
  • Embasado: as afirmações devem estar sustentadas e inter-relacionadas, bem como ser coerentes com um referencial teórico consistente. Em muitas pesquisas há a necessidade de explicação crítica das origens das informações e das fontes de que provêm as informações utilizadas ou das razões que lhe dão validez.

A linguagem deve ser:

Sendo que a investigação se divide em três fases:

Referências Bibliográficas

Silva, R. H. R; Gamboa, S.S. Do esquema paradigmático à matriz epistemológica: sistematizando novos níveis de análise. Educ. Temat. Digit. Campinas, v.16, n.1, p.48-66 jan./abr., 2014.

Gil, A. C. (2002). Como Elaborar Projetos de Pesquisa. (4° ed). São Paulo: Editora Atlas S.A.

Costa, F. A. (2017). Metodologia da Investigação I. Disponível em: https://metinv.weebly.com/