Paradigmas de Investigação em Educação

Mapa conceptual por Mariana Guerreiro

PARADIGMAS DE INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Conceito de Paradigma

Paradigma de investigação, pode ser definido como um conjunto de regras, postulados e valores sistematizado por uma teoria que é aceita por todos os elementos de uma comunidade científica num dado contexto. Significa “um compromisso implícito de uma comunidade de investigadores com um quadro teórico e metodológico preciso, e, consequentemente, uma partilha de experiências e uma concordância quanto à natureza da investigação e à conceção.” (COUTINHO, 2011, p. 9).

“Como lembra Lukas & Santiago e Clara Coutinho, não há como passar pelo conceito de paradigma sem fazermos menção ao célebre historiador Thomas Kuhn (1922-1996), que, na obra A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), definiu o termo como um conjunto de crenças, valores, técnicas partilhadas pelos membros de uma dada comunidade científica e, em segundo, como um modelo para o “que” e para o “como” investigar num dado e definido contexto histórico-social.”

Paradigma positivista (quantitativo)

Pressupostos básicos

A epistemologia positivista, para a qual “Objetividade”, “meios para ser objetivo” são as palavras fortes, está na base deste paradigma. Segundo esta epistemologia, o mundo é objetivo, existe independentemente do sujeito e o investigador deve ser o mais neutro possível para não interferir na realidade. O mundo social é igual ao mundo físico: importa conhecer as relações causa-efeito. O seu objetivo é prever, explicar e controlar fenómenos.

A epistemologia positivista levou ao paradigma positivista da investigação que enfatiza:

  •  o determinismo (há uma realidade a ser conhecida)
  • a racionalidade (não podem existir explicações contraditórias)
  • impessoalidade (procura a objetividade e evita a subjetividade o mais possível)
  • faz depender a validade dos resultados de uma correta aplicação dos métodos esquecendo o processo de investigação em si.
  • Previsão (capacidade de prever e controlar os fenómenos)

Procedimentos Metodológicos

 A metodologia é de cariz quantitativo e baseia-se no método dedutivo.

Os métodos de investigação próprios das ciências físicas são (procuram adaptar) adaptados às ciências sociais.

Em primeiro lugar, o investigador formula uma teoria. Dessa teoria surgem problemas e formulam-se hipóteses que resultam num conjunto de conceitos e variáveis a ela associado que não se alteram ao longo da investigação. Segue-se a recolha de dados que visa a confirmação da teoria. O papel da teoria é fundamental e muitas vezes, o objetivo central da investigação é simplesmente verificar a teoria.

No âmbito da investigação em educação, o estudo ocorre geralmente na sala de aula, simulando situações laboratoriais.

Limitações

Este paradigma perde força quando aplicado às ciências sociais, pois esbarra na impossibilidade de obter um conhecimento totalmente objetivo, uma vez que existe uma interação entre investigador e objeto. Não está, portanto, garantida a neutralidade da investigação.

Segundo Firestone (1990:112) a realidade social não é única e é modelada por valores pessoais. A investigação num dado paradigma constitui mais uma visão do problema.

 Paradigma Interpretativo (qualitativo)

Pressupostos básicos

  • Segundo Bogdan & Bilken (1994), teve origem no século XIX;
  • Ideologicamente: positivismo (Augusto Comte) e empirismo (Locke e Stuart Mill);
  • Ontologicamente, na opinião de Guba (1990), este paradigma adota uma posição relativista (múltiplas realidades que existem sob a forma de construções mentais social e experiencialmente localizadas);
  • Valoriza o papel do investigador/construtor do conhecimento (epistemologia subjetivista);
  • Substitui as noções científicas de explicação, previsão e controlo (paradigma positivista) pelas de compreensão, significado e ação;
  • Sujeito (investigador) e objeto (sujeito) da investigação têm a caraterística comum de serem, ao mesmo tempo, “intérpretes” e “construtores de sentidos” (Usher, 1996:19);

Procedimentos Metodológicos

  • “Teoria Fundamentada” – Construção de teorias que se adaptam a problemas/situações muito específicas;
  • Segue um quadro conciliável com as propostas positivistas e pós-positivistas.
  • “Dupla Hermenêutica” – Processo de dupla busca de sentido na qual investigador e investigado interagem e cada um por si molda e interpreta os comportamentos de acordo com os seus esquemas socioculturais;
  • Busca dos significados;
  • Construção indutiva da teoria;
  • O investigador procura padrões, regularidades rumo à teoria;
  • Papel central assumido pelo investigador, admitindo várias vias metodológicas;
  • Utilizam-se preferencialmente técnicas de observação.

Limitações

“…mudou as regras, mas não a natureza do jogo” (Mertens, 1997:15).

 Conservador.

 O conhecimento resultante é parcial e perspetivado (…) e depende da Tradição.

 Não inclui nos seus objetivos explícitos a intenção de modificar o mundo rumo à liberdade, justiça e democracia. 

Paradigma crítico

Pressupostos básicos

  • Filosofia marxista
    • Nível crítico:
  • Adorno e Habermas, Economia liberal
    • Marcuse, Alienação consumista das sociedades Capitalistas;
  • Nível pedagógico:
    • Paulo Freire (pedagogia da libertação)
    • Anos 80-90, movimento pedagógico de Michael Apple e Henry Giroux nos Estados Unidos da América (Gitlin, Siegel & Boru, 1993; Marques, 1999).
  • Ideologia como forma de construção do conhecimento científico;
  • Saber é poder, e não algo puramente técnico e instrumental;
  • Cada ator social vê o mundo através da sua racionalidade;

Procedimentos Metodológicos

  • Desmascarar as ideologias que sustentam o status social e intervir de forma ativa para modificar essas situações;
  • Desmascarar as ideologias que sustentam o status social restringindo o acesso ao conhecimento aos grupos sociais mais oprimidos;
  • Intervir de forma ativa para modificar as situações anteriores.
  • Semelhanças metodológicas com o paradigma qualitativo;
  • Inclusão da componente ideológica confere-lhe cariz interventivo;
  • Desintegração como nenhuma forma de conhecimento pode ser separada da linguagem, dos textos e discurso de uma dada cultura, o método tem por objetivo proceder a uma análise em que o texto é decomposto em busca de oposições (anti texto).

Limitações

Leitura dos fenómenos condicionada pela racionalidade individual.

Visão anti-essencialista (todo o conhecimento é contingente e perspetivado dentro de uma dada prática da investigação)

A linguagem utilizada na investigação influi na produção do conhecimento, porque é o reflexo de uma dada cultura e condiciona a forma como os investigadores agem dentro dessa cultura (Stronach & MacLure,1997).

Bibliografia:

Coutinho, C. (2011). Paradigmas, Metodologias e Métodos de Investigação. In: Metodologias de Investigação em Ciências Sociais e Humanas. (p.9-41).Lisboa. Almedina.

https://sites.google.com/site/grupometodologiaste/Home/paradigmas-de-investigacao
Consultado por 29/11/2019

https://cienciaeeducacao.wordpress.com/2017/11/24/principais-paradigmas-da-investigacao-em-educacao/
Consultado e 12/11/2019 e 29/11/2019

Paradigmas da Investigação Científica

O que é um paradigma?

Este conceito foi criado por Thomas Kuhn, em sua obra “The Structure of Scientific Revolution“, de 1962. Uma pequena síntese das principais contribuições desta obra pode ser consultada neste link; ela foi elaborada pelo Professor Silvio Chibeli, do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Brasil.

De acordo com Lukas e Santiago (2004), paradigma é “um conjunto de práticas científicas ou de investigação que em um espaço de tempo são aceitas de forma generalizada e que proporcionam um marco de trabalho, uns problemas e umas soluções”.

Para Coutinho (2014), os paradigmas permitem unificar e legitimar a investigação, tanto nos aspectos conceituais como nos metodológicos, ou seja, garante ao pesquisador uma orientação nos momentos de delimitação de um problema, recolha de dados e interpretação dos resultados.

Na área das Ciências Sociais e Humanas são considerados, majoritariamente, três grandes paradigmas: Positivismo, Relativismo e Crítico, os quais serão abordados a seguir.

Paradigma Positivista

Derivado das ideias de Augusto Comte, criador da escola positivista e considerado o pai da Sociologia. Ele considerava que a ciência é o único verdadeiro tipo de conhecimento, gerado a partir da experiência, e deve ser prático e não especulativo. Criou também a teoria dos três estágios de desenvolvimento, para explicação dos fenômenos naturais: teológico (mais primitivo explicados pelo misticismo), metafísico (explicados por causas e leis sem comprovação) e científico (mais avançado – explicados por experimentos científicos – onde se encontra o Positivismo).

Para mais detalhes sobre Augusto Comte e o Positivismo, recomendo o vídeo abaixo, do Canal didatics, disponível no Youtube: https://youtu.be/mFizxyWzq0E

Segundo Lukas e Santiago (2004), o objetivo geral do Positivismo é aumentar o conhecimento; este deve ser sistemático, comprovável, mensurável e replicável. O investigador, neste contexto, deverá levantar hipóteses e submetê-las a comprovação empírica sob rigoroso controlo experimental (Coutinho, 2014).

Os fenômenos educativos sob a lógica positivista são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA POSITIVISTA – EDUCAÇÃO
VariáveisEstudam-se relações entre variáveis da realidade educativa.
TeoriasSão universais e podem ser utilizadas para compreender qualquer contexto educativo.
InvestigadorPermanece neutro durante toda a investigação.
MetodologiaMuito rigorosa, principalmente na análise dos dados.

Como podemos observar, o Positivismo não permite explicar toda a complexidade do comportamento humano e, portanto, tem enfrentado muitas críticas na área das Ciências Sociais e Humanas.

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Paradigma Humanista/Naturalista

Este paradigma busca compreender o significado das ações humanas, construídas ao longo de suas interações sociais. Tem raízes na Antropologia, Sociologia e na Psicologia. Surgiu principalmente pela verificação de que o paradigma positivista não era suficiente para compreender o significado e interpretações dos sujeitos para situações cotidianas.

Como poderíamos utilizar leis gerais para explicar o comportamento de um indivíduo, que é único e influenciado por múltiplos fatores socioculturais? Os investigadores então, nesta perspectiva, procuram penetrar no mundo conceitual dos seus sujeitos, com o objetivo de compreender qual o significado que constroem dos acontecimentos de seu cotidiano, além das ideias preconcebidas (Coutinho, 2014).

Há uma reflexão contínua e um envolvimento emocional do investigador, além da interação dinâmica com o objeto de estudo (Gunther, 2006).

Os fenômenos educativos sob a lógica humanista são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA HUMANISTA – EDUCAÇÃO
VariáveisEstudadas de forma holística, pois as realidades são múltiplas.
TeoriasSe fundamentam em valores sociais que mudam com o tempo; dependem do contexto estudado.
InvestigadorÉ estimulado a explicitar sua interpretação sobre o fenômeno e interagir com o objeto de estudo.
MetodologiaApresenta várias vias metodológicas, adaptadas ao objeto de estudo e ao caso específico.

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Paradigma Crítico

É muito próximo do paradigma humanista porém, tem como objetivo analisar os fenômenos sociais de forma crítica, buscando transformar as realidades sociais e torná-las mais justas. Originou-se no século XX, na Escola de Frankfurt, criada na Universidade de Frankfurt – Alemanha, onde os filósofos Max Horkheimer e Theodor W. Adorno eram os principais representantes.

As investigações sob esta perspectiva se orientam sob um compromisso ideológico, que resulta em conhecimentos voltados para a emancipação humana. Como contempla um grupo heterogêneo de interesses, principalmente de grupos marginalizados pela sociedade, apresenta diferentes abordagens de investigação.

Os fenômenos educativos sob a lógica crítica são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA CRÍTICA – EDUCAÇÃO
VariáveisPercepções individuais da realidade, influenciadas por valores da sociedade.
TeoriasTeoria e prática formam um todo indissociável e não existem teorias universais.
InvestigadorOs participantes são também investigadores e os investigadores também participam da ação social.
MetodologiaColaboração entre investigador e participantes.

RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, segue abaixo um Mapa Conceitual com os principais pontos abordados (Clique sobre a imagem para ampliá-la):

Mapa Conceitual “Paradigmas da Investigação Científica”.

REFERÊNCIAS

Coutinho, C (2014). Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, Teoria e Prática. Edições Almedina.

Günther, H (2006). Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 22 n. 2, pp. 201-210.

Lukas, J. F.; Santiago, K (2004). Evaluación Educativa. Edição da Alianza Editorial, Madrid.