NOTA: esta publicação reúne conhecimentos meus enquanto professora de Filosofia no ensino secundário, sobre a natureza do conhecimento científico e a leitura de bibliografia da disciplina de Metodologia de Investigação I

Aquilo que para nós é hoje a ciência é o resultado de um longo processo de construção e de evolução epistemológico, resultante da procura humana de uma forma de conhecimento da realidade que lhe ofereça garantias de fiabilidade, de certeza, quanto à verdade dos conhecimentos que produz. Poderíamos dizer que a ciência, ou o espírito científico, nasceu com os primeiros filósofos na Grécia Antiga, que rejeitando o pensamento mitico-religioso que dominava a compreensão dos fenómenos naturais e regulava as relações humanas, procuraram eliminar o sentido sobrenatural contido nessas explicações. Foi assim que os primeiros filósofos da natureza, procuraram construir as suas explicações cosmológicas sobre a origem, a partir da procura de uma arqué, ou substância primordial, que era uma substância natural e já não uma entidade divina, a partir da qual tudo se formou. Procuraram essas explicações integrando as bases daquilo que hoje reconhecemos ser o aspeto central de uma ciência: 

  • Uma explicação teórica de caráter racional e lógico, que visa a possibilidade de explicar e prever os fenómenos; 
  • Um conhecimento assente na observação da realidade, a partir da qual se elaboram construções teórica. 

Foi assim, por exemplo, que Tales, observando fósseis de animais marinhos em zonas de montanha secas, concluiu a importância da água nos processos biológicos e recorrendo ao argumento de que este elemento da matéria pode assumir os 3 estados (sólido, líquido e gasoso) a postulou como origem de tudo. Esta forma de pensamento “científico” embrionário, fez com que, desde sempre a história da ciência e a da filosofia se tivessem encontrado ligadas. René Descartes, o filósofo que é, muitas vezes, considerado o pai da época moderna, coloca a ciência, ou as ciências como ramos do saber que assentam na metafísica (filosofia), assumindo a filosofia como a mãe das ciências.

Não obstante isso, o conceito de ciência (ou conhecimento científico) foi-se definindo ao longo dos tempos num processo de autonomização e afastamento em relação à filosofia, e também à fé e foi tentando afirmar-se cada vez mais como uma forma de conhecimento positiva. Este aspeto foi particularmente notório na época de Galileu e Copernico, durante o qual a ciência procura lutar contra a forma de pensamento assente essencialmente no argumento de autoridade em que se fundamentam os fenómenos religiosos, bem como distanciar-se da natureza reflexiva, especulativa e literária assumida pela filosofia. A preocupação de Galileu com a construção do telescópio com o qual irá fazer as observações que lhe permitirão sustentar a tese heliocêntrica, afrontando a Igreja e o modelo geocêntrico são um momento marcante da luta da ciência na afirmação da importância da sua natureza empírica e positiva. 

Assim, vemos hoje que a ciência se apresenta hoje como uma atividade ou processo de investigação sistemático e metódico, que visa produzir um conhecimento teórico-explicativo, de caráter objetivo e rigoroso da realidade, que possa cupmprir o objetivo de descrever a realidade, e as suas diferentes manifestações, tal como ela é, de  explicar como e por que é que os fenómenos ocorrem como ocorrem, de modo a fornecer a possibilidade de prever e controlar a sua ocorrência. 

A ciência destaca-se assim de outras formas de conhecimento pela sua natureza metódica e é no método que, de acordo com muitos investigadores se centra a sua diferença epistemológica. Este método deve garantir que a ciência responda a duas exigências centrais: 

  • a exigência de racionalidade e de coerência interna, uma vez que as teorias se constituem como conjuntos de conceitos e de relações entre conceitos, de leis e de relações entre leis que devem poder ser verdadeiras e racionalmente sustentáveis.   
  • a exigência de concordância com a realidade empiricamente observada, com a qual as teorias explicativas devem ser confrontadas  por meio de uma observação atenta e intencional dos factos. 

Características da ciência: 

  • Objetiva: descreve (ou procura descrever) a realidade tal como ela é e não a partir de uma perspetiva pessoal.
  • Empírica: assente nos dados recolhidos da observação dos fenómenos.
  • Racional:  procura de explicações coerentes, assentes na razão e na lógica, 
  • Replicável: garante que todos os sujeitos irão obter os mesmos resultado quando colocados nas mesmas condições de observação. 
  • Sistemática: preocupa-se com a ordenação e organização dos conhecimentos num sistema global, integrado e coerente. 
  • Metódica: resulta da aplicação consciente e rigorosa de um conjunto de procedimentos e técnicas de investigação, reconhecidos pela comunidade científica como adequados.   
  • Comunicável: preocupa-se com a clareza e precisão conceptual na forma como se expressa, recorrendo a uma linguagem técnica. 
  • Analítica: desmonta a complexidade e globalidade do real, segmentando-a e estudando-a na sua especificidade. 
  • Cumulativa: partindo de conhecimentos científicos estabelecidos anteriormente, evolui e progride continuamente. 
  • Revisível: possui mecanismos internos de revisão e correção dos conhecimentos estabelecidos, sempre que novos dados exigem a sua reformulação ou eliminação. 

Referências: 

Almeida, S. A., Freire, T.(2003). Metodologia de Investigação em Psicologia e Educação, (pp.17-33).Braga:Psiquilíbrios. 

Lukas, J. F, & Santiago, K.(sem data) Evaluación Educativa, (pp.15-23) Madrid:Alianza Editorial.


Deixe um comentário