Reflexão Crítica Individual – Vestir a camiseta do investigador

O presente trabalho trata-se de uma reflexão crítica individual acerca do trabalho desenvolvido na disciplina de Metodologia de investigação, do curso de Mestrado em Educação e Tecnologias Digitais da Universidade de Lisboa. O objetivo da disciplina é fornecer ao aluno uma visão ampla a respeito da investigação científica, os métodos, pressupostos e formas de organização que nortearão o trabalho a ser desenvolvido para a conclusão do curso: a dissertação.

A proposta feita pelo professor foi bastante interessante: orientado por 3 módulos, 5 sessões síncronas de webconferência aconteceram, a partir das quais os alunos deveriam fazer suas anotações, posteriormente produzirem um mapa conceitual e sobre este, fazer uma pesquisa. Todo trabalho produzido sobre essa dinâmica deveria servir de conteúdo a um blog criado e alimentado pelos próprios alunos. A experiência de criar um conteúdo que ao mesmo tempo fosse pensada para o público externo, que pode aceder ao blog, e também fosse dirigida à avaliação do professor, foi desafiadora. Acredito que nos fez refletir sobre a forma como nós, do universo acadêmico, levamos ciência ao público leigo. Creio ser de suma importância pensar em uma linguagem e em maneiras de transpor o conhecimento científico de forma que seja inteligível e agradável.

Em relação ao conteúdo e posicionamento explicitados pelo professor Fernando, alguns pontos chamaram-me mais atenção. O primeiro deles foi o choque de realidade quanto a temática a ser escolhida, parafraseado o professor, é necessário ter em mente que não mudaremos o mundo com uma pesquisa, acredito que esta afirmação evita frustrações. O segundo ponto se refere a vestir a camisa do investigador, diz respeito sobre o quão necessário é estar atento as características da investigação científica, considerar a natureza da pesquisa, pesar os aspectos que envolvem o objeto de estudo, determinar de forma assertiva o referencial teórico e o método a ser utilizado, tudo isso com ambos os pés fincados no chão, ou seja, trabalhar com racionalidade e objetividade, dentro do que a pesquisa em ciências humanas e sociais permitem. Finalmente, apesar de já conhecer um pouco sobre metodologia de investigação e já ter realizado trabalhos acadêmicos, desconhecia as ferramentas gerenciadores de pesquisa e definitivamente esta foi uma excelente descoberta que facilitará meu trabalho.

Ao nos solicitar e esclarecer que valorizaria as pesquisas feitas em publicações outras que não as disponibilizadas no Moodle, o professor já nos fez exercitar o papel do investigador e para mim, especialmente, foi prazeroso encontrar trabalhos que me pareceram tão interessantes e importantes quanto os textos oficialmente propostos. Talvez se inicia aqui a incorporação deste papel do qual nos propomos a assumir ao entrar neste mestrado.

Gerenciadores Bibliográficos

Organizar uma pesquisa científica nunca foi tão fácil, com os dispositivos digitais e a internet, inúmeras ferramentas de apoio foram criadas para possibilitar a organização de informações, citações e bibliografia, o que permite um trabalho de pesquisa e escrita acadêmica com maior qualidade.

Abaixo temos algumas sugestões de softwares para gestão de pesquisa com tutoriais de uso. Deem uma olhada e avaliem qual é a melhor opção.

Investigação em ciências humanas e sociais

A linguagem cientifica, enquanto linguagem humana, é uma representação social dos saberes que permeiam o imaginário coletivo e este saber é, de alguma forma, integrado aos saberes do senso comum, principalmente na atualidade, em que a realidade é marcada pelo super acesso a informação.

Moscovici (2015 como citado em do Nascimento, 2017, p.436) chama esta realidade de produção psicossocial do conhecimento, onde a interação entre pesquisadores, sujeitos e objetos de pesquisa, familiariza o saber científico, fator que o carrega de qualidades humanas, sendo então a investigação quantitativa, forma insuficiente de observação da realidade.

Dentro desta perspectiva, formulou-se formas distintas de observar a realidade no campo das ciências exatas, ou ciências da natureza, e no campo das ciências humanas: são os paradigmas de investigação. Segundo Coutinho (2011) um paradigma é a maneira como uma determinada comunidade científica se coloca diante de seus problemas, isto se relaciona com um conjunto de pressupostos e regras que determinam a forma de recolher e tratar os dados.

Há ainda uma distinção entre pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos:

– Ontológico: como entendemos a natureza da realidade e dos fenômenos que vamos estudar.

– Epistemológico: o conhecimento que vamos indagar, como adquirimos esse conhecimento? O conhecimento é objetivo ou subjetivo? Qual a relação do investigador com o objeto de estudo?

– Metodológico: Como nós apreendemos os fenômenos, como avançamos no conhecimento sobre um fenômeno.

Paradigma positivista
De caráter quantitativo, empírico-analítico e racionalista. Com sua lógica convencional, serve melhor às necessidades das ciências naturais, por procurar estabelecer leis, prever e controlar fenômenos, a partir de uma medição objetiva, controle de variáveis e lógica dedutiva. Seu maior propósito é o aumento do conhecimento e a explicação de fenômenos

Paradigma relativista
Interpretativo, qualitativo, naturalista ou construtivista, visa a compreensão dos fenômenos e serve melhor às necessidades das ciências humanas e sociais. Aqui os fatos são interpretações humanas da realidade, que podem ser percebidos de forma diferentes no espaço e no tempo, através de uma lógica flexível que se molda a necessidade da investigação no transcorrer do processo. A rigidez do método racionalista não cabe em meio a fenômenos humanos, caracterizados por sua inconsistência e complexidade. Seu maior propósito é compreender os fenômenos.

Referências:

Coutinho, C. (2011). Paradigmas, metodologias e métodos de investigação. Metodologias de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, 9-41.

do Nascimento, A. C. S. (2017). Metodologias de Pesquisa em Ciências Humanas Sociais–Percurso Epistemológico da Pesquisa Qualitativa.

Elementos do problema de pesquisa e Estado da arte

A formulação do problema de pesquisa, que deve ser lógico e coerente, é um dos pontos de partida para iniciar uma investigação científica. Assim que o problema é estabelecido, podemos seguir quatro passos que são elementos contidos no problema, quais sejam:

– Estabelecer os objetivos de pesquisa: define o que a pesquisa pretende, é necessário que sejam claros, porque eles orientadores do estudo.

– Desenvolver as questões de pesquisa: questões gerais que esboçam a área-problema, no mínimo devem resumir o que será a pesquisa

– Justificar a pesquisa: expor as razões pelas quais o estudo do objeto é conveniente.

– Analisar sua viabilidade: é preciso considerar se aquele estudo é exequível ou não.

Após fazer um aprofundamento do tema, o pesquisador irá estruturar e aperfeiçoar sua ideia inicial, isto nada mais é do que a formulação do problema. Quão maior for a exatidão do problema, maiores são as possibilidades de se obter uma resolução satisfatória, significa delimitar de forma precisa e objetiva o objeto de estudo (Collado, Lucio e Sampieri, 2006).

Após definir qual problema será objeto de estudo, é necessário fazer o trabalho de revisão bibliográfica, ou conhecer o estado da arte que envolve o tema, que contribuirá com o processo de delimitação temática. O estado da arte, ou estado de conhecimento, é um trabalho de caráter bibliográfico, que tem por intuito mapear e discutir a produção científica acadêmica de um tema em uma determinada área do conhecimento, bem como perceber como o objeto de estudo vem sendo abordado em diferentes espaços e momentos (de Almeida, 2002).

A revisão bibliográfica é essencial, pois permite ao pesquisador saber se o problema selecionado já foi solucionado; conhecer as teorias explicativas do fenômeno, fator que consequentemente facilita a escolha do modelo de análise; conhecer a metodologia de investigação comumente utilizada pelos pares, e finalmente, saber se há questões deixadas em aberto ou erros cometidos em estudos anteriores.

Referências:

Almeida, L. S., & Freire, T. (2000). Metodologia da investigação em psicologia e educação.

Collado, C. F., Lucio, P. B., & Sampieri, R. H. (2006). Metodologia de pesquisa.

de Almeida Ferreira, N. S. (2002). As pesquisas denominadas” estado da arte. Educação & sociedade23, 257.

MÉTODO: Diferencial em Ciência

O conhecimento é uma experiência diversa, que pode ser caracterizada como conhecimento popular, filosófico, teológico e científico, este último se difere dos anteriores pela forma como aborda um objeto de estudo. Segundo Trujillo (1982), “a ciência é todo um conjunto de atitudes e de atividades racionais, dirigido ao sistemático conhecimento, com objetivo limitado e capaz de ser submetido à verificação”. O conhecimento científico é organizado e necessita de fundamentação, tem por características a objetividade, a empiricidade, a racionalidade, é passível de ser sistematizado, replicado e comunicado, bem como é metódico, analítico e cumulativo (Almeida e Freire, 2003).

Já investigação científica pode ser diretamente associada ao método, que a partir de objetivos específicos, busca investigar a relação existente entre os fatos e fenômenos da realidade. A utilização de um método de pesquisa se justifica em termos de organização do trabalho, a fim de que se obtenha produtividade; também porque se busca validar as conclusões a respeito do problema tratado, fator que determina a distinção entre conhecimento científico e o conhecimento quotidiano; e finalmente porque o intuito é tornar o estudo verificável para a comunidade científica (Reto e Nunes, 1990).

A metodologia aplicada a pesquisa dependerá da natureza dos fenômenos estudados, neste sentido é importante ter em mente a diferenciação entre a investigação em ciências da natureza e a investigação em ciências humanas. Em ciências humanas o que se pretende é compreender, explicar, predizer e controlar o comportamento humano, nesta perspectiva há três tipos de investigação: a descritiva (descreve, identifica, e inventaria fenômenos e fatos), a correlacional (relaciona as diferentes variáveis) e a experimental (busca relações causais entre os fenômenos e intenta predizer e/ou controlar os fenômenos).

 Ainda a respeito da investigação, os objetivos tem o papel de orientar qual modelo mais adequado a ser utilizado, para tanto, em termos de finalidade, uma investigação pode ser básica (propõe descobrir problemas, gerar novos conhecimentos para o avanço da ciência), aplicada (visa encontrar resoluções para problemas) ou mista (une os tipos anteriores).

Referências:

Almeida, L. S., & Freire, T. (2003). Metodologia da investigação em psicologia e educação. Ferrari, T. (1982). Alfonso. Metodologia da pesquisa científica.
Reto, L., & Nunes, F. (1999). Métodos como estratégia de pesquisa: problemas tipo numa investigação