O QUESTIONÁRIO, O FORMULÁRIO E A ENTREVISTA COMO INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Hoje, quando caminhava no bairro, fui interpelado por uma pesquisadora do Datafolha.

Após as considerações iniciais, ligadas à questão ética, vieram as perguntas do extenso questionário. “Ô” coisa chata responder em pé na calçada. Não poderia ser em uma padaria?

Primeiro faz-se um inventário do entrevistado. Quantos veículos possui, quantos banheiros tem na casa, geladeira, freezer, micro-onda, máquina de lavar, secadora, lavadora de louças, notebook, celular, tem gato, cachorro, periquito, ufa!

Depois vem o principal, com uma série de perguntas tendenciosas que levam à escolha do banco digital ideal. Uau!

Foi aí que eu me revoltei (de novo) e disse que a ordem das questões estava equivocada. Mas a pesquisadora (ou seria entrevistadora?) nada podia fazer a não ser seguir o script. Sendo assim, numa escala de 0 a 10, falei para ela anotar 5 em tudo.

Quando eu achei que tinha terminado ela veio com a pérola das pérolas: “Você é o chefe da casa?” Pqp (desculpe a nossa falha intencional), como assim garota? Estamos no século XXI e você me pergunta isso? Me reservo o direito de permanecer em silêncio.

A gente lê Andrade (2009), Bertucci (2008), Lakatos (2003), Gil (2002), Prodanov (2013), Silva, (2001), entre outros e aprende que: “A coleta de dados pode ser considerada um dos momentos mais importantes da realização de uma pesquisa”.

E agora José? Como diria Carlos Drumont de Andrade…

Método Científico e Gatos Carinhosos

Nota introdutória:

Este texto consiste em um reblog da publicação feita por Andre Mazzetto (2016)

Peço licença ao estimado prof. Fernando e aos meus colegas de mestrado para compartilhar este post, um tanto curioso, criativo e pertinente ao tema da UC Metodologia de Investigação I. Este reblog não deixa de ser uma homenagem aos amantes de gatos de nossa classe, nomeadamente @monteiroclaudia e @fcosta2020.

“Ozzy, saia daí agora!”

Esta é a frase mais ouvida e dita aqui em casa.

Nós temos dois gatos, o Ozzy Osbourne e a Norah Jones. Tínhamos também a Amy Winehouse, mas ela morreu muito jovem… é sério! Os tipos de coincidências que até assustam a gente!

Mas o que os gatos aqui de casa têm a ver com o método científico?

Alguns dias atrás uns amigos nos visitaram e fizeram a famosa (e perigosa) pergunta:

“De quem eles gostam mais, de você ou da Josi?

Eu não sabia responder.

A Norah é uma gata independente, que não liga muito para a interação com humanos, então não há preferidos para ela. Em compensação o Ozzy é o gato mais carente que eu já vi na vida! Ele tem a necessidade de estar perto de nós o tempo todo, então pode ser que ele tenha sim uma preferência por um de nós.

Assim, como um bom pesquisador, eu comecei a elaborar maneiras de testar e quantificar o quanto o Ozzy gosta de cada um de nós e de quem ele gosta mais.

Moral da história até aqui: NUNCA faça uma pergunta para um pesquisador que ele não saiba responder.

Meus amigos acabaram desencadeando um processo que quase me deixou louco (em consequência, quase deixou a Josi também…).

Então vamos lá, como um cientista faz pra descobrir uma resposta científica para uma pergunta intrigante?

Como eu vou determinar de quem o Ozzy gosta mais?

As pessoas podem aceitar algo como verdade baseado em intuição, ou credo. Vamos considerar minha própria crença: o Ozzy me ama mais do que qualquer pessoa! Eu SEI que ele me ama, eu sinto isso.

Será que essa crença é uma boa base para o conhecimento?

Bem… não é! Simplesmente acreditar em algo não faz ela ser verdade. Coisas que acreditamos firmemente podem na verdade ser falsas. E se alguém tem uma crença exatamente contrária? A Josi acredita que o Ozzy gosta mais dela do que de mim! Não há como saber quem está certo só comparando as nossas crenças.

Nós podemos contar o número de pessoas que creem na mesma coisa e constituir uma maioria, ou um consenso. Mas esta ainda não é uma boa base para o conhecimento. Só porque mais pessoas dizem que uma coisa é verdade, não quer dizer que realmente seja. Por séculos a maioria das pessoas pensava que a Terra era plana, hoje sabemos que ela não é!

Outra possível fonte é a opinião de uma autoridade, como políticos, esportistas, cientistas.

Também não é uma boa base para o conhecimento, porque a opinião deles é somente isso, uma opinião. Eles podem até ter mais acesso às informações, mas também possuem o seu lado pessoal, querendo que suas visões sejam aceitas. A carreira e a reputação destas pessoas dependem, muitas vezes, da opinião delas!

Vamos supor que a Josi contrate um especialista em gatos e ele diga que o Ozzy ama mais ela do que eu. É claro que eu serei cético a esta opinião, especialmente porque quem pagou o especialista foi ela, não eu! Eu poderia encontrar outro especialista que diria exatamente o contrário. Assim, voltamos ao início, onde temos apenas duas opiniões diferentes.

O que nós precisamos são evidências!

Quando eu chego do trabalho eu percebo que o Ozzy vem sentar no meu colo, não no colo da Josi. Eu estou baseando minha conclusão (que o Ozzy me ama mais) com uma observação do que está acontecendo, ou seja, no colo de quem ele senta quando chegamos em casa.

Esta observação casual é uma estratégia melhor do que as anteriores, mas ainda não é suficiente.

Isso porque pessoas não são muito boas observadoras. Nós tendemos a observar coisas e tirar conclusões que concordam com nossas crenças! Por exemplo, eu posso ter esquecido que o Ozzy senta no colo da Josi durante o café da manhã.

A lógica então parece ser uma boa fonte, mas a nossa lógica informal não é.

Se nós queremos desenvolver conhecimento real, devemos ter certeza que nossas explicações sobre o mundo são válidas… então precisamos de algo mais. Não podemos depender de fontes subjetivas ou não verificáveis, como falamos antes. Nós precisamos de observações sistemáticas, livre de desvios, combinada com lógica aplicada.

Em outras palavras, nós precisamos do método científico.

Vamos então aplicar o método científico na nossa pesquisa. Eis os 6 princípios:

1) A hipótese (que o Ozzy me ama mais) tem que ser testada empiricamente.

Isso significa que eu preciso coletar informações que vão suportar ou contradizer a hipótese. Para testar a hipótese do Ozzy, temos que coletar dados. Mas como eu vou observar isso? Eu posso perguntar ao Ozzy sobre os sentimentos dele (apesar de ele ser bem inteligente, a comunicação entre animais e humanos ainda não alcançou este nível!).Vamos concordar que gatos não expressam amor da mesma forma que humanos. Então não há nada para se observar. Esta hipótese não é empiricamente testável.

2) Um estudo deve ser replicável.

Ou seja, o resultado deve ser o mesmo, independente do número de vezes que o experimento é repetido. Se o resultado esperado ocorre apenas uma vez, ou em poucas vezes, pode ser que tenha sido só coincidência.

Vamos dizer que eu convenci a Josi que a demonstração de amor do Ozzy é ficar no colo da pessoa amada. Nesta semana o Ozzy sentou no meu colo duas vezes mais que no colo dela.

Conclusão: ele me ama mais, fim de papo, a gente já sabia disso mas fiz a pesquisa só pra provar, certo? Seria o fim se eu pudesse mostrar que o resultado é o mesmo em várias semanas.

Mas, e se depois da primeira semana o Ozzy fugir de casa, cansado de ser cobaia de dois loucos tentando testar seus sentimentos? Eu não posso mais repetir o experimento, nem chegar à conclusão. Se eu fizer o mesmo estudo com a Norah não estaremos repetindo o mesmo experimento, porque o teste era com o Ozzy.

3) O terceiro princípio é objetividade.

Isso quer dizer que qualquer pessoa deve poder repetir o experimento, sem necessidade do pesquisador que elaborou o teste (no caso eu) estar presente. Não importa quem está fazendo o estudo, o resultado deve ser o mesmo. Para isso, todos os conceitos e procedimentos do experimento devem estar bem claros, deixando nenhum espaço para subjetividade.

Vamos dizer que agora eu considero que quando o Ozzy fica se esfregando na minha perna é outro sinal de amor, além de sentar no colo, mas não digo isso para Josi. Mesmo se nós dois observarmos sistematicamente o comportamento dele, chegaremos a resultados diferentes, porque eu estou contando duas reações (sentar no colo e se passar na perna), enquanto ela está contando só uma (sentar no colo). O resultado depende de quem está observando porque agora cada um está seguindo um protocolo.

4) O quarto princípio é transparência.

Ser transparente é semelhante a ser objetivo. Todos devem ser capazes de repetir o experimento sozinhos, sejam pessoas que concordam ou discordam do resultado final.

5) O quinto princípio diz que uma hipótese deve ser refutável.

Isso é simples. É só imaginar cenários em que a hipótese pode se contradizer. Se não podemos achar um cenário onde a hipótese não se contradiz, ela não pode ser refutável.

Pergunte para qualquer pessoa com uma crença extremamente forte em uma religião: Quais evidências te convenceriam que a sua crença é falsa? Ou pergunte pra alguém que torce pro Corinthians: Quais evidências te convenceriam que o Palmeiras é melhor? Não importa quantos argumentos você listar, com certeza o Corinthiano dirá que o time dele é melhor e terminará dizendo: Vai Curintia!!!!!.

Ou seja, coisas que se baseiam apenas em crenças, como religião e futebol não podem ser avaliadas pelo método científico.

6) O sexto princípio diz que uma hipótese deve ser logicamente consistente, ou seja, coerente.

As conclusões também devem ser coerentes. Eu espero que o Ozzy venha se sentar mais no meu colo, já que eu acho que ele me ama mais. Mas se ele passar mais tempo no colo da Josi? Bem, eu posso dizer que ele sabe que quando está sentado no meu colo, a posição é desconfortável para mim. Ele demonstra amor ao não sentar no meu colo e me deixar mais confortável. Isso é ser inconsistente!

Eu mudei a interpretação do resultado depois que obtive os dados só para poder comprovar a minha hipótese. Isso também fere o quinto princípio porque torna a minha hipótese irrefutável. Eu sempre vou concluir que o Ozzy me ama mais, esteja ele no meu colo ou não.

Resumindo:

Se você chegou até aqui já deve saber que não adianta adotar o método científico para descobrir quem o Ozzy ama mais. É uma questão de crença, assim como o Corinthiano ali em cima.

Não importa o que você fale, eu tenho certeza que ele gosta mais de mim…

Este foi o método hipotético-dedutivo, ou seja, você formula uma hipótese, com base nos conhecimentos ou observações, faz experimentos e chega a respostas, ou, na maioria das vezes, novas hipóteses e novas perguntas.

Adaptado de “Quantitative Methods” — Annemarie Zand Sholten4

Referência

Mazzetto, Andre (2016, novembro 3). Sobre o método científico e gatos carinhosos. [Post em blog]. Disponível em https://medium.com/ciencia-descomplicada/sobre-o-m%C3%A9todo-cient%C3%ADfico-e-gatos-carinhosos-5958d775e1ae

Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão?

Investigadores argumentam que ambas as pesquisas (qualitativa e quantitativa) apresentam prós e contras. O método escolhido pelo investigador deve se adequar à pergunta de uma determinada pesquisa. O cientista social deve considerar a variabilidade do comportamento e dos estados subjetivos. Sob a ótica das ciências sociais é preciso observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real, criar situações artificiais e observar o comportamento diante dessas situações e perguntar às pessoas sobre o seu comportamento. As vantagens e desvantagens estão ligadas à qualidade dos dados obtidos, às possibilidades da sua obtenção e à maneira de sua utilização e análise. O que une os diversos métodos é o fato de todos partirem de perguntas essencialmente qualitativas. Um pesquisador rotulado de quantitativo dificilmente exclui o interesse em compreender as relações complexas. Na pesquisa qualitativa a coleta de dados pode ocorrer por entrevista focalizada, semipadronizada, centrada em um problema, centrada no contexto, narrativa, episódica, em grupo, discussão em grupo e narrativa em grupo. A questão não é colocar a pesquisa qualitativa versus a pesquisa quantitativa e sim considerar os recursos materiais, temporais e pessoais disponíveis para lidar com a pergunta científica.

ThInK a little.

Paradigma

Paradigma, palavra derivada do grego “paradeigma” que significa padrão, exemplo, modelo a ser seguido. O conceito de paradigma nos remete aos modelos de comportamento que regem a sociedade. Segundo Silva e Pinto (1986) o paradigma é “um conjunto de princípios, teorias, estratégias metódicas e resultados cruciais que servem de modelo ou quadro orientador às pesquisas produzidas na sua área”. Os paradigmas são mais facilmente perceptíveis quando um novo modelo de ciência se instaura. Um exemplo é a evolução dos modelos atômicos, desde o átomo indivisível ao modelo quântico atual. O paradigma positivista resulta da associação de várias correntes de pensamento derivadas da Revolução Científica, do Iluminismo e da Revolução Industrial. Enfatiza o determinismo, a racionalidade, a impessoalidade, a inflexibilidade e a previsão. O paradigma interpretativo substitui as noções de explicação, previsão e controle por compreensão, significado e ação. Adota uma posição relativista e valoriza o papel do investigador. O paradigma crítico considera o caráter emancipatório e transformador das organizações e processos educativos. Cada ator social vê o mundo através da sua racionalidade.

ThInK a little.

Revisión de la literatura y fundamentación teórica

Revisar a literatura envolvida, escolher, analisar criticamente e relatar dados já existentes sobre o tema. Consiste em localizar e resumir a informação existente acerca de um problema. Deve ter-se em conta a pertinência e a qualidade e não a quantidade a escolher as referências bibliográficas a revisar a literatura. A revisão da literatura deve ajudar a formular o problema de investigação evitando duplicidade. Ajuda a definir sua praticabilidade e pode fornecer sugestões metodológicas. As fontes podem ser factuais, estatísticas, opiniões, pontos de vista ou comentários pessoais. As fontes podem ser primárias quando foram escritas pelo investigador referente às suas próprias experiências, ou secundárias quando foram escritas por outros autores. O processo de construção da concepção do projeto tem a função de dar ao investigador a perspectiva do projeto. Implica na criação de conceitos que são os símbolos dos fenômenos abstraídos da realidade da qual fazem parte. Tais conceitos não são os fenômenos em si, mas um marco de referência. O fato é uma construção lógica de conceitos. O referencial teórico amplia a descrição e análise do problema, orienta a organização de dados significativos para descobrir as relações do problema com as teorias existentes e conecta a teoria com a investigação.

ThInK a little.

Métodos de Investigação

No post sobre a Natureza da Investigação Científica, iniciamos a discussão sobre a definição de Problemas de Pesquisa. Agora, vamos seguir para o próximo passo: a escolha e aplicação do Método de Investigação.

No contexto da investigação científica, podemos definir “Método” como um conjunto de instrumentos e técnicas para recolher, organizar, analisar e comunicar os dados de uma investigação.

Por exemplo:

  • Para atender a um Método Quantitativo, podemos elaborar checklists ou testes de múltipla escolha como instrumentos de recolha de dados e análise estatística como técnica para analisar os dados;
  • Para atender a um Método Qualitativo, podemos elaborar guiões de entrevista ou um diário do investigador como instrumentos de recolha de dados e utilizar uma análise de conteúdo como técnica para analisar os dados;
  • Para atender a um Método Misto, podemos elaborar um questionário ou ficha de leitura como instrumentos de recolha de dados e utilizar uma análise de conteúdo e estatística como técnicas para analisar os dados.
  IMPORTANTE: A escolha do método depende dos objetivos de investigação.  

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estratégias QUALITATIVas

Segundo Creswell (2007), os processos qualitativos se baseiam em dados de texto e imagem, têm passos únicos na análise de dados e usam estratégias diversas de investigação. Vamos citar cinco delas:

Narrativa: recriação das histórias dos participantes. É solicitado a eles que discorram sobre o tema proposto, de acordo com uma ordem cronológica. Ao pesquisador cabe organizar estes dados e analisá-los.

Fenomenologia: análise de declarações significantes, em busca de sua “essência”. Há ênfase no indivíduo e em sua subjetividade.

Estudo de Caso:  individuais ou unidades molares que partilham uma característica em comum (família, comunidade) ou um amplo fenômeno social: Objetivo: ampliar a validade externa das mesmas (Aires, 2015).

Etnografia: estuda o compartilhamento de cultura de pessoas ou grupos, sem partir de pressupostos ou expectativas. O objetivo deste tipo de investigação é descobrir ou gerar uma teoria; não é provar nenhuma teoria determinada (Álvarez, 2011).

Teoria baseada na realidade: diferentemente do estabelecido pelo método científico tradicional, esta estratégia não se inicia com uma hipótese mas sim, a partir da coleta de dados, sua categorização e análise. O objetivo final é criar uma teoria a partir das análises realizadas.

Para escolher entre uma delas, é necessário levar em conta suas informações históricas, descrição, aplicações, o motivo dela ser apropriada e como influenciará os passos da pesquisa.

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O PAPEL DO INVESTIGADOR

Não é possível evitar a interpretação pessoal do investigador em todos os passos de uma pesquisa qualitativa; inclusive também há envolvimento de seus participantes. Sendo assim, o investigador precisa ter uma visão holística do fenômeno social estudado e, enquanto se aprofunda no tema, deverá refletir sobre sua própria prática e mudar protocolos ou questões de pesquisa, se preciso. Esta ação faz parte de toda pesquisa qualitativa, o que a torna única e dinâmica.

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instrumentos de recolha de dados

Neste post, vamos analisar dois instrumentos de recolha de dados, Entrevista e Questionário e uma técnica, a Observação, majoritariamente utilizados na pesquisa qualitativa:

1- Entrevista:

É uma conversa com os participantes da pesquisa, com o objetivo de verificar o sentido que atribuem a um determinado acontecimento do passado, ao seu cotidiano ou a um problema específico. As Entrevistas “são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados” (Duarte, 2004).

Nesta conversa, o entrevistador (investigador) não propõe perguntas para o entrevistado; é o próprio entrevistador que deve, após a entrevista, ressignificar o que foi dito e responder às perguntas que surgirem.

Os tipos de entrevista são:

  • Semi-dirigida: Preparação de uma estrutura de entrevista, em função do objetivo pretendido.
  • Centrada: entrevistador guia a entrevista a partir de uma lista de tópicos
  • Em profundidade: utilizada no âmbito de histórias de vida

2- Questionário

É um instrumento de características mais positivistas, sendo muito mais exigente do que uma entrevista, pois é necessário estabelecer uma amostra representativa da população estudada e um conjunto de questões validadas por especialistas no assunto, a serem propostas aos participantes. O objetivo é conhecer esta população a partir da amostra selecionada e/ou entender um fenômeno social a partir da perspectiva destes participantes.

Os tipos de questionário são de:

  • Administração Indireta: o investigador preenche o questionário com base nas respostas do participante.
  • Administração Direta: o participante preenche o questionário diretamente.
  • Administração online: é disponibilizado um link do formulário para preenchimento online.

A perguntas de um questionário podem ser classificadas em perguntas abertas: o participante responde com suas próprias palavras; perguntas fechadas ou dicotômicas: são oferecidas alternativas de resposta; perguntas hierarquizadas: com múltiplas opções para serem assinaladas por ordem de importância, e perguntas em forma de lista: com múltiplas opções, porém as respostas devem apresentar um grau de intensidade crescente ou decrescente (Álvarez, 2011).

3- Observação

Na observação, “o pesquisador toma notas de campo sobre comportamento e atividades das pessoas no local de pesquisa” (Creswell, 2007). Com esta técnica é possível recolher a informação em tempo real, in loco e de forma espontânea, permitindo contato direto do investigador com o objeto ou fenômeno estudado.

Para realizar uma observação, o investigador precisa determinar onde será realizada, qual será o universo e a amostra, a frequência e os períodos de observação, quais serão os acontecimentos ou condutas a observar e qual formato será utilizado (Álvarez, 2011):

  • Esquema padronizado ou Flexível? Uma estrutura padronizada facilita a delimitação e seleção de situações relevantes, enquanto a flexível pode resultar em material espontâneo e levantar novas questões.
  • Observador participante ou sem interferência? Observador visível ou não visível? No modelo de observador participante, o observador deve se entregar sem restrições, viver, pensar e sentir como aqueles que se pesquisa; ou seja, se despersonalizar. Já o distanciamento (princípio de exclusão do observador) é a via de acesso a um conhecimento objetivado. O modelo de não interferência considera a neutralidade do sujeito como via de acesso ao saber. (Jaccoude e Mayer, 2008).
A observação também permite fazer triangulações, ou seja, logo após a observação, o investigador pode realizar entrevistas e assim obter várias fontes de dados. 

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Quais seriam então os passos de um investigador qualitativo para organizar dados de pesquisa tão abrangentes e provenientes fontes complexas ou tão diferentes?

Podemos conferir abaixo:

Quadro 1. Passos de um investigador qualitativo. Elaborado por Priscilla Ribeiro baseado na obra de Creswell (2007).

Neste quadro, estão sistematizados seis passos gerais para orientação de um investigador após a coleta de dados para a pesquisa. Obviamente estes passos necessitam de adaptações e especificações, dependendo da estratégia de investigação utilizada.

Por exemplo, para um estudo de caso, o passo 1 “Organizar os dados” será realizado de forma diferente de uma pesquisa narrativa, pois partem de materiais de coleta de conteúdo e formatos diferentes.

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RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, consulte o Mapa Conceitual abaixo, elaborado sobre o tema (Clique sobre a imagem para ampliá-la).

Mapa Conceitual “Métodos de Investigação”.

REFERÊNCIAS

Aires, L. (2015). Paradigma qualitativo e práticas de investigação educacional. Lisboa: Universidade Aberta. E-book disponível em http://hdl.handle.net/10400.2/2028

Álvarez, C. A. M (2011). Metodología de la investigación cuantitativa y cualitativa. Guia didáctica. Disponível em https://www.uv.mx/rmipe/files/2017/02/Guia-didactica-metodologia-de-la-investigacion.pdf

Creswell, J.W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

Duarte, R. (2004). Entrevistas em Pesquisas Qualitativas. Educar, n. 24, p. 213-225. Curitiba, Editora UFPR.

Jaccaud, M.; Mayer, R (2008). A observação direta e a pesquisa qualitativa. In A pesquisa qualitativa : enfoques epistemológicos e metodológicos. tradução de Ana Cristina Nasser – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

A questão do método científico

Nota: Este texto resume aqui que eu, enquanto professora do ensino secundário leciono aos meus alunos da disciplina de Filosofia, no tema de epistemologia e aos alunos de Psicologia no tema relativo às metodologias de investigação da Psicologia. 

A origem etimológica da palavra ‘método’ é uma palavra grega cujo significado é ‘caminho, percurso’ e quando falamos em método científico,  referimo-nos ao conjunto de etapas e procedimentos que os cientistas devem levar a cabo no seu processo de investigação. O facto de o conhecimento científico implicar a utilização de um método é frequentemente referido como a principal razão para que esta forma de conhecimento tenha adquirido um estatuto tão importante na atualidade, apesar da sua relativamente curta história. O método  científico foi uma construção importante para o desenvolvimento da ciência e para a sua afirmação como forma de conhecimento rigorosa, precisa, objetiva e com um elevado grau de fiabilidade, mas foi uma construção relativamente recente, quando comparamos com outras formas de conhecimento, tais como o conhecimento vulgar, ou senso comum e o conhecimento filosófico. Apenas na época moderna, esse método se foi definindo, com os contributos de filósofos e cientistas.  É ancorado neste método que os cientistas desenvolvem a sua atividade com a consciência do crescente reconhecimento social, cultural e político daquilo que fazem e do produto da sua atividade, pelo menos nas sociedades industrializadas e ocidentalizadas. 

Alguns autores, tais como Paul Feyerabend, questionam a ideia de um método científico único, utilizado e reconhecido por todos os cientistas de todas as áreas, referindo que ao longo da história da ciência, muitos cientistas tiveram abordagens diferentes à metodologia a utilizar e realizam as suas pesquisas de formas diferentes. 

  Podemos, ainda assim, tipificar essencialmente os seguintes métodos (refiro aqueles que constituem parte do programa da disciplina de Filosofia):

O MÉTODO INDUTIVO:

Este método assenta essencialmente num processo de raciocínio indutivo, tendo a sua primeira etapa na recolha sistemática de um conjunto de dados da observação empírica. Esta observação, ainda que possa estar orientada por um conjunto de conceções teóricas, não está à partida metodologicamente orientada quanto à natureza do conhecimento que se procura. Só após a recolha de dados se pode, indutivamente, procurar regularidades e ligações dentro dessa diversidade de fenómenos observados. A partir daqui, o esforço racional de generalização irá conduz à formulação de uma lei ou teoria, que poderá servir de visão compreensiva ou explicativa da diversidade dos fenómenos encontrada. 

Um bom exemplo da utilização deste método é o de Charles Darwin que viajou pelo mundo, recolhendo amostras de espécies diferentes, sem uma noção prévia antecipação das conclusões a que iria ou desejaria chegar sobre elas. Só posteriormente, ao analisar toda a diversidade de fenómenos encontrados, nas suas semelhanças e diferenças, encontrou uma lei geral pela qual explicou a diversidade de espécies que encontrou, a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural.

O MÉTODO EXPERIMENTAL SIMPLES: 

Este é um método mais estruturado que se compõe essencialmente de 4 etapas, cujo nome deriva do papel que a experimentação desempenha nele, como elemento que garante a capacidade de o cientista poder confrontar as suas explicações racionais com os factos, intencionalmente manipulados pelo cientista com um objetivo claro de investigação. 

As etapas são:

1ª – a formulação do problema, sendo este uma pergunta, geralmente relativamente à causa de um dado fenómeno; 

2ª – a formulação de uma hipótese, enquanto tentativa de explicação do fenómeno, que se traduz no estabelecimento de uma relação de causalidade entre uma causa ou um conjunto de  causas e o fenómeno que se quer explicar. Esta hipótese é assim uma resposta teórica, contudo ainda meramente suposta e com carácter provisório, que não passou ainda o crivo do confronto com a realidade ocorrerá durante o teste experimental.

3ª – a sujeição da hipótese ao teste experimental, que visa, pela manipulação da realidade (dos fenómenos) confrontar a explicação hipotética do cientista com os factos, no sentido de obter deles a confirmação ou a refutação da mesma.

4ª – a análise dos resultados da experimentação, que poderá confirmar ou refutar a hipótese do cientista. Caso se verifique a primeira, o cientista formulará a lei geral que regula o fenómeno, e caso se verifique a segunda o cientista deve regressar à formulação de uma nova hipótese, repetindo assim o processo.

O MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO

Este método corresponde a uma versão mais complexa do método experimental simples na medida em que integra basicamente todas as etapas do anterior, mas salienta o papel dos processo dedutivo e da hipótese no processo de investigação. 

 Tal como se observa, no esquema, a investigação científica começa sempre com a formulação de um problema, que consiste numa pergunta para a qual o investigador não tem resposta. O processo de investigação científica é, precisamente o processo de procura de resposta a essa pergunta. Mas para que a pergunta seja formulada pelo cientista, ele precisa de tomar contacto prévio com factos, situações e teorias prévias. É no momento em que um dado facto ocorra cuja explicação não esteja prevista no corpo de conhecimentos que o cientista possui que este se constitui como um facto problemático.

A importância da formulação da hipótese, como guia orientador da investigação, é salientada pois será ela a determinar todo o processo a desenvolver. Uma vez que uma hipótese não se observa diretamente, para que o cientista possa confrontar a hipóstese com os factos no momento da experimentação é necessário clarificar que tipo de fenómenos é esperado observar caso a hipótese esteja correta. É assim por isso importante que o cientista proceda à dedução de consequências previsíveis da hipótese, formulando assim enunciados observacionais que descrevem de forma objetiva e concreta aquilo que deverá ocorrer, se a hipótese formulada for correta. Esta é, por isso, uma fase de previsões ou predições em que o cientista funciona dedutivamente a partir da hipótese formulada

É com estas predições em mente que o cientista irá definir os procedimentos de observação e de experimentação, a partir do qual confronta a hipótese, ou melhor, as deduções que efetuou dela, com a realidade para perceber se as suas predições, expressas nos seus enunciados observacionais, se verificam ou não.

Mais uma vez, os resultados dessa experimentação poderão validar a hipóteses e esta poderá ser considerada uma lei geral, constante, pela qual aquele fenómeno pode ser explicado. Ou, em caso de não validação, quando as predições não se verificam, será necessário ao cientista reavaliar os seus conhecimentos de modo a formular nova hipótese explicativa. 

No contexto da aplicação do método experimental à investigação em Psicologia, e dado que no caso desta disciplina se procura observar o comportamento humanos,.é importante considerar que o processo de experimentação costuma envolver a criação de dois grupos de sujeitos observados, a saber um grupo experimental e um grupo de controlo. O cientista irá testar o papel que uma dada condição ou variável irá ter nos comportamentos dos indivíduos que serão objeto de observação. Assim, há duas variáveis em jogo: uma variável independente, que o cientista irá manipular de modo diferente em ambos os grupos, para avaliar qual o seu papel no comportamento dos indivíduos. Este comportamento, designado de resposta, é chamado de variável dependente, dado que a sua expressão irá variar em função da presença, ou ausência da variável independente. O ou os grupo(s) de controlo, serão aqueles onde a presença da variável dependente servirá para fazer a comparação com o (ou os)  grupo(s) experimental(ais). É no grupo experimental que a variável independente irá influenciar o comportamento dos indivíduos.  

A propósito do método experimental há muitas questões epistemológicas a discutir, nomeadamente: 

  • Poderá a experimentação fornecer uma confirmação segura de que a teoria é verdadeira? 

Segundo Karl Popper, a perspetiva verificacionista segundo a qual o cientista  deve procurar provas de que a sua teoria é verdadeira é logicamente questionável, dado que implica o recurso à indução, uma forma de raciocínio com um fraco grau de valor lógico. Nesse sentido, Popper propõe uma perspetiva falsificacionista, dizendo que o cientista se deve dedicar à procura das provas que falsifiquem a sua conjetura e que, por mais corroborações que a teoria receba dos testes experimentais, o cientista deve considerá-la sempre como uma teoria provisória e procurar realizar os testes experimentais mais críticos e exigentes com vista a falsificá-la. É neste sentido que, para este filósofo, uma metodologia crítica mais facilmente deteta os erros e as falhas na conjeturas científicas e pode corrigi-las e melhorá-las. 

  • Pode uma teoria científica ser considerada objetivamente verdadeira, mesmo quando recebe o apoio de toda a comunidade científica? 

Segundo Thomas Kuhn, uma teoria integra-se dentro de um paradigma científico que envolve, da comunidade científica, um conjunto de decisões não totalmente objetivas sobre quais o factos científicos relevantes, quais os procedimentos técnicos, metodológicos e conceptuais a utilizar no processo de investigação científica. Assim, quando diante de dois paradigmas distintos, em especial em momentos de crise e de desacordo numa determinada área científica, os cientistas são chamados a tomar partido por um paradigma e os critérios pelos quais um dos paradigmas se sobrepõe ao outro e passa a dominar a comunidade científica não são totalmente objetivos e podem, inclusivamente envolver aspetos de natureza política, social e económica. 

A propósito deste tema, considero muito interessante esta palestra da professora Naomi Oreskes sobre o método científico.

Revisão bibliográfica

Após situar o problema torna-se necessário reunir e analisar o que já se conhece sobre o assunto. A revisão bibliográfica é importante para se definir e enquadrar o referencial teórico para a investigação. Serve também para a obtenção de indicações e sugestões importantes tendo em vista a definição do plano de investigação. A revisão bibliográfica permite verificar o conhecimento que se tem do tema, como por exemplo, se o problema já foi solucionado ou o que falta para isso. Permite também conhecer a metodologia de investigação mais frequentemente usada para abordar o problema em questão. Sem contar com as questões deixadas em aberto, os erros metodológicos e reducionismos em que incorreram os estudos anteriores.

ThInK a little.

Planteamiento del problema

Levantar um problema é refinar e estruturar a ideia de pesquisa de forma mais formal.
A abordagem para o problema às vezes pode ser imediata, quase automática ou levar um tempo considerável. Isso depende de quão familiar o pesquisador está com o assunto a ser abordado, a própria complexidade da ideia, a existência de estudos de fundo, a pesquisa do pesquisador, a abordagem escolhida (quantitativa, qualitativa ou mista) e suas habilidades pessoais.
Primeiro, é necessário formular o problema específico em termos concretos e explícitos, de modo que seja susceptível de ser investigado por procedimentos científicos.
Os elementos necessários para a abordagem do problema são: listar os objetivos, elaborar as perguntas da investigação, justificar o projeto e estudar sua viabilidade.
Para tanto é preciso ter clareza do que se pretende, analisar a possibilidade de coleta de dados e verificar a relação entre as variáveis.
Os objetivos da investigação destinam-se a apontar o que se pretende na investigação e devem ser claramente expressos.
As perguntas formuladas podem ser mais ou menos gerais, mas na maioria dos casos devem ser mais específicas. Além disso devem orientar o que se busca na investigação.


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How to Choose a Good Scientific Problem

A escolha de um bom problema é essencial para se tornar um bom cientista. Mas o que é um bom problema e como escolhê-lo? Uma boa escolha significa descobrir novos conhecimentos de forma competente e fascinante. Para escolher um problema científico, o ponto de partida é a viabilidade, ou seja, ele é difícil ou fácil, para o tempo esperado para concluir o projeto. Depende da habilidade do pesquisador e da tecnologia disponível. Problemas que são fáceis no papel são muitas vezes difíceis na prática, e os problemas que são difíceis no papel são quase impossíveis na prática. Geralmente valoriza-se a ciência que se aventura em águas profundas. Com isso os problemas que aumentam o conhecimento verificável são os de maior interesse. Para decidir qual problema selecionar é preciso pensar nas duas frentes: viabilidade e o que se esperar obter de conhecimento. Por exemplo, um estudante de pós-graduação iniciante precisa de um problema que seja fácil, dê feedback positivo e possa reforçar a confiança do pesquisador. Um erro comum cometido na escolha de problemas é tomar o primeiro problema que vem à mente. A escolha rápida conduz a muita frustração e amargura. Leva tempo para encontrar um bom problema. Mas as semanas dedicadas à escolha, podem economizar meses ou anos mais tarde. Se o pesquisador tiver a sorte de ter mentores atenciosos, ele poderá ouvir a voz interior a lhe direcionar a escolha. Uma maneira de ajudar a ouvir a voz interior é perguntar: ”Se eu fosse a única pessoa na Terra, em qual problema eu trabalharia?” Em resumo, o pesquisador deve encontrar seu tempo para encontrar os problemas disponíveis, o que é mais viável e mais interessante.

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A seleção do Problema

A formulação de um problema deve estabelecer uma relação entre duas ou mais variáveis, ser clara e sem ambiguidade, formulada em forma de questão, ser testável e não representar atitude moral ou ética. O primeiro passo é delimitar a amplitude do problema. Para tanto é útil recorrer a esquemas para classificá-lo.

Inputs disponíveis Atividade e organização do ensino Antecipação dos resultados
Estudantes prospectivos Seleção Satisfação das necessidades da sociedade
Professores prospectivos Programa Satisfação das necessidades individuais
Atitudes Currículo Mudança de atitude
Mercado de trabalho Relação professor/aluno Mudança social
Relações institucionais Escolha de carreira Aquisição de competências
Desenvolvimento de carreira Serviços  

Por exemplo, considerando o “Desenvolvimento de Carreira” (coluna 1) com “Serviços” (coluna 2) e “Satisfação das Necessidades Individuais” (coluna 3) temos a seguinte formulação: – “A orientação de grupo é tão eficaz como a orientação individual para facilitar as escolhas apropriadas de carreira”? Outro exemplo, considerando agora “Estudantes prospectivos” (coluna 1) com “Escolha de carreira” (coluna 2) temos a seguinte formulação: – “A orientação de grupo é mais eficaz para facilitar as escolhas de carreira apropriadas, entre os estudantes com objetivos claramente definidos, ou entre os estudantes sem objetivos claramente definidos”? A investigação em sala de aula deve considerar as características do material de ensino, as características do professor e aluno, o comportamento do aluno frente a aprendizagem, a inteligência e a ansiedade do aluno e as características da tarefa. Ao escolher um problema considere a aplicabilidade, exigência, amplitude crítica, extensão, complexidade, valor teórico e potencial contribuição para a compreensão do fenômeno.

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Standards of Validation and Evaluation

Definir “Padrões de validação e avaliação” em educação não é tarefa fácil. É importante verificar critérios de validade e fidedignidade da pesquisa qualitativa. Diversas tentativas foram feitas no sentido de adotar os critérios advindos da pesquisa quantitativa, notadamente experimental. Novos critérios e nova compreensão do que significa validade e fidedignidade tiveram de ser desenvolvidos. Novos termos para definir se o achado qualitativo é “merecedor de confiança” ou confiável incluem concordância sobre a veracidade da análise feita. As interpretações são limitadas e a própria verdade é questionada. Estratégias de validação são descritas e incluem o papel do orientador ou do grupo de pesquisa na verificação crítica da confiança dos resultados da pesquisa, na identificação do viés do pesquisador, dentre outros. A fidedignidade pode ser compreendida em métodos qualitativos como uma medida possível em que os critérios utilizados para análise dos dados concordam e em qual medida. Outra questão importante é a avaliação da “honestidade” ou “autenticidade” do texto elaborado para a pesquisa. O papel do participante, ou colaborador, é fundamental neste sentido, e a consulta a ele envolve diferentes métodos a depender do delineamento qualitativo utilizado. É importante que a “validade” e “fidedignidade” de estudos qualitativos sejam verificadas. Neste sentido, o acesso à literatura anterior pode permitir ao pesquisador encontrar autores que propõem alternativas que sejam viáveis às perspectivas epistemológicas de diferentes pesquisas e delineamentos.

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Problema, Hipóteses e Variáveis

Uma investigação inicia-se sempre com a definição de um problema. Toda investigação visa esclarecer uma dúvida, replicar um fenômeno, testar uma teoria ou buscar soluções para um dado problema. Assim, a primeira peça da pesquisa é a formulação do problema. O primeiro passo surge quando procuramos a resposta a uma pergunta. Segundo Tukey é preferível uma resposta aproximada à uma pergunta certa do que uma resposta exata à uma pergunta errada. O segundo passo é avaliar a qualidade e pertinência do problema identificado. Qual a sua relevância? O problema deve ser real, reunir condições de estudo, ser relevante para a teoria ou prática e formulado de forma clara e perceptível por outros pesquisadores. Situado o problema é necessário reunir e analisar o que já se conhece sobre o assunto. A revisão bibliográfica é importante para melhor enquadrar o referencial teórico para a investigação. A seguir são enunciadas as hipóteses ou soluções mais plausíveis para o problema. A formulação de hipóteses deve ser testável, se enquadrar nas hipóteses existentes da mesma área, justificável e relevante. Deve obedecer a princípios de clareza e parcimônia, ser suscetível de quantificação e generalização. Ao formular hipóteses é preciso identificar as variáveis e suas relações, trata-se de um passo importante na definição do modelo de análise do problema. As variáveis estão associadas ao modelo de investigação. No modelo experimental a preocupação está na ocorrência de um comportamento e na sua capacidade explicativa. No modelo correlacional o objetivo está em quantificar e relacionar as dimensões psicológicas. É preciso enunciar a variável, incluindo sua definição, qual aspecto melhor a descreve, que indicador a viabiliza e definir os índices a tomar sua medida. A variável pode ser independente, ou seja, identifica-se com a característica que o investigador manipula deliberadamente para conhecer o seu impacto em outra variável, dita dependente. Além destas existe a variável interveniente, que mesmo sendo alheia ao experimento influem no experimento podendo desvirtuá-lo. É também chamada de moderadora. Já a variável dita parasita, associada à variável independente, afeta os resultados da variável dependente (contaminação). Para apreciar a mensurabilidade de uma variável devemos considerar vários parâmetros, a frequência, a probabilidade, a duração, a intensidade e a qualidade de uma resposta. Finalmente, acerca da natureza das variáveis, temos as qualitativas que apenas descrevem sujeitos e situações e as quantitativas que exprimem em valores numéricos.

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Naturaleza de la investigación y evaluación em educación

Aliaga reconhece 5 tipos de conhecimento: senso comum, religioso-místico, artístico, filosófico e científico. Para cada um deles as fontes de informação são, respectivamente: experiência cotidiana, revelação e fé, intuição ou introspecção, pensamento e método científico. Uma das características que diferencia o conhecimento vulgar do científico é a forma com que se obtém o conhecimento. No conhecimento científico existe um método caracterizado por ser objetivo, racional, sistemático, fidedigno, baseado em fatos externos ao investigador, analítico, capaz de divulgação para a comunidade científica e sujeito a comprovação ou refutação. As etapas do método científico englobam a identificação da área de estudo, busca de informação relevante, formulação do problema, planejamento do projeto, formulação de objetivos, seleção do material para coleta de dados, execução do trabalho de campo, coleta de dados, análise dos dados e conclusão. A educação não é uma ciência natural e como tal não pode ser investigada da mesma forma. Neste caso a investigação deve ser realizada de forma mais ampla, tendo em conta os fatores que influenciam os fenômenos e situações educativas. Os controles rígidos de laboratório não são possíveis em educação e a verificação por replicação pode se tornar difícil. A cientificidade na educação não pode prescindir da interdisciplinaridade. Os problemas e soluções devem ser concebidos em contextos amplos que ultrapassam o âmbito da aula e o centro escolar. A abordagem dos problemas também passa pela Psicologia, Sociologia, Antropologia, Economia, Filosofia, etc.

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Les origines et l’évolution des sciences de l’éducation em pays francophones

A investigação científica em educação começou no final do século XIX e início do século XX. Alfred Binet foi o precursor da pesquisa científica na educação. Ele propôs uma análise científica em três pontos chaves: os programas de ensino, os métodos de ensino e as habilidades das crianças. Segundo Binet o método de comparação garante a natureza científica da medição da inteligência e validade dos testes, que consiste em perguntas cujo conteúdo é invariável e pode ser mensurada. A proposta de avaliação não é subjetiva e categorizada em bom, medíocre ou ruim, e sim por comparação com a escolaridade de crianças da mesma idade e condição social. Enquanto que na França o trabalho de Binet não teve a repercussão esperada, em outros países nomes como Decroly, na Bélgica, Maria Montessori, na Itália, Claparède, na Suíça, surgiram com trabalhos marcantes. Entre eles “Introdução à Educação Quantitativa” de R. Buyse, “Il método dela pedagogia scientifica aplicado all’educazione infantil nelle case dei bambini” de Montesori, “Psicologia Infantil e Pedagogia” de Claparède. O período pós I Guerra Mundial teve vários movimentos educativos como a publicação, em 1923, das Instruções Oficiais para os programas e métodos da escola primária. Obras como “Experimentação na pedagogia” de R. Buyse, “O método científico em pedagogia” de T. Jonckheere e “Investigação pedagógica” de A. Planchard, colocam os fundamentos da investigação científica na educação. Após a II Guerra Mundial até 1953 tivemos outro período de pesquisas no campo pedagógico até a realização do primeiro encontro de pesquisadores em 1953, organizado por Robert Dottrens em colaboração com a Universidade de Lyon. A “Enciclopédia universalis” publicada em 1968 e o “Dicionário da Linguagem Pedagógica” publicado em 1971 ainda não continham a expressão “ciências da educação”, que embora tenha sido usado em 1912 abrangia uma área limitada da educação, voltada para a psicologia infantil, crianças difíceis ou anormais e formação de professores. As “Ciências da Educação” são compostas por todas as disciplinas que estudam as condições de existência, funcionamento e evolução das situações e fatos educacionais. A educação nos dias atuais não é mais apenas aquilo que se aprende na escola. Há uma outra “escola paralela” que não depende da relação professor-aluno, Técnicas modernas como audiovisual, mídia, games, internet estão presentes no dia a dia do aluno.  Uma situação educacional envolve uma série de organizações e serviços, mas também envolve o ambiente familiar, a comunidade e a vizinhança. O pesquisador nas ciências da educação implementa métodos e visa resultados de natureza científica. As áreas de estudo em educação podem ser vistas como: situações do passado (educação na Grécia), situações contemporâneas do pesquisador e situações dinâmicas em que ocorre a ação educacional. Os tipos de situação correspondem aos tipos de conhecimento: conhecimento psicológico ou testemunho, conhecimento reflexivo e filosófico, conhecimento taxonômico ou diagnóstico, conhecimento experimental e conhecimento estatístico. As fontes em ciências da educação são numerosas e variadas: prática pedagógica, serviços de documentação, pesquisas relacionadas às ciências da educação, todos os resultados do trabalho, reflexões e discussões de natureza filosófica, histórica e política.

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