Reflexões Finais

Nesta Unidade Curricular, denominada “Metodologia de Investigação I”, iniciamos o Módulo 1 com um questionamento sobre qual o nosso conhecimento prévio sobre Investigação Científica, e seguimos com o estudo de sua natureza e características. Já no Módulo 2, discutimos seus Paradigmas (Positivista, Humanista e Crítico) e, no Módulo 3, conhecemos seus principais métodos e como escolher e desenvolver um Problema de Investigação.

Ao longo das minhas pesquisas para cada um dos módulos, procurei desenvolver um mapa conceitual com a ferramenta MindMup 2.0 For Google Drive, infográficos a partir do site Canva, além de um breve resumo e adição de links de materiais relevantes que encontrei. Foi uma ótima experiência utilizar o WordPress para sistematizar nossos posts. Considerei uma ferramenta muito intuitiva e não tive dificuldades para utilizá-la.

Quanto à bibliografia indicada para nossa leitura, o material que mais utilizei foi o livro de autoria de Creswell (2007) Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. O formato do livro, estruturado principalmente em passo a passos e dicas práticas, foi fundamental para compreender os conteúdos, considerando sua complexidade e extensão. Inclusive foi com base neste livro que elaborei todos os infográficos dos meus posts.

Ao longo dos módulos, compreendi questões fundamentais para a elaboração de meu futuro projeto de pesquisa:

1 – Antes de iniciar uma investigação, é importante verificar se estamos partindo de um problema de investigação relevante e científico.

2 – Logo após, é preciso delimitar qual o nosso objetivo com este estudo e para qual público iremos contribuir.

3 – É preciso definir se será uma investigação pura ou aplicada, e qual a modalidade de Investigação: quantitativa, qualitativa, mista.

4 – A partir do Módulo sobre paradigmas, compreendi que na área de Educação, podemos utilizar principalmente o Positivista, o Humanista, e o Crítico.

5 – Refleti sobre como estudar questões educacionais sob o Paradigma Positivista. Em meu primeiro post, relatei uma situação em que fui questionada, na apresentação de um trabalho em congresso, sobre a “certeza” de que minhas dinâmicas com os alunos foram efetivas para melhorar a aprendizagem deles. A grande questão é que utilizei métodos qualitativos, e estamos muito acostumados com gráficos, estatísticas e tabelas como “comprovantes” de que algo é verdadeiro. Acredito que o Paradigma Positivista ainda é mais bem aceito que o Humanista.

6 – Não conhecia o Paradigma Crítico e me pareceu mais atual, por permitir uma certa liberdade para discutir temas controversos. Questionei-me se ele é bem aceito pela comunidade científica, ou sofre algum tipo de ressalva.

7 – Quanto aos métodos de coleta de dados na pesquisa qualitativa, conheci mais profundamente as técnicas de entrevista, questionário e observação. Dentre elas, apliquei somente o questionário e, ainda assim, com minhas leituras percebi a importância da validação das perguntas por profissionais da área para verificar se elas têm a possibilidade de nos informar exatamente o que precisamos saber, e da melhor forma possível.

Conheci também duas ferramentas que me auxiliarão na escrita da minha dissertação: o Mendeley, para compilar minhas pesquisas bibliográficas, e o ResearchGate, uma comunidade científica para encontrarmos investigadores próximos de nossas áreas de pesquisa e colaborarmos com eles, além de podermos visualizar anúncios de emprego que possam nos interessar.

Seguem os links dos meus perfis nas duas plataformas:

– Mendeley: https://www.mendeley.com/profiles/priscilla-ribeiro8/

– Research Gate: https://www.researchgate.net/profile/Priscilla_Ramos_Lara_Ribeiro

Para concluir, considero que confeccionar este blog foi uma experiência enriquecedora e, com certeza, consultarei o material produzido ao longo do curso de mestrado.

Problemas de Investigação

O primeiro passo de uma pesquisa, seja ela de abordagem quantitativa, qualitativa ou mista, é a determinação de um problema de investigação. Um problema surge quando temos questões sobre um certo assunto, ou uma necessidade é observada. O investigador, neste contexto, tem sua curiosidade e interesse despertados e precisa refletir, antes de mais nada, sobre a importância deste estudo e quais públicos serão beneficiados direta ou indiretamente.

Como formular um projeto de pesquisa?

Segundo Gil (2002) o problema precisa ser categorizado primeiramente como “científico” – como vimos anteriormente no post “Natureza e características da investigação científica”. Após, podemos seguir algumas regras práticas:

(a) o problema deve ser formulado como pergunta sobre o tema, provocando uma problematização;

(b) o problema precisa ser claro e preciso, com termos rigorosamente definidos;

(c) o problema deve ser empírico, estudado como fatos ou “coisas”, e não apresentar julgamentos morais ou de valores;

(d) o problema deve ser suscetível de solução;

(e) o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável

Caso seja constatado que o problema precisa ser tratado de forma mais estruturada e é pertinente, o investigador pode dar início à investigação, partindo de uma revisão bibliográfica.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O objetivo da revisão bibliográfica é justificar a importância da investigação e criar distinções entre os estudos passados e o estudo proposto; este novo estudo precisa acrescentar algo à literatura ou ampliar ou retestar aquilo que outras pessoas já examinaram (Creswell, 2007). Para realizá-la de forma eficiente, o investigador pode selecionar palavras-chave e efetuar suas buscas em bases de dados, como o Google Scholar, ResearchGate, Pubmed, Scielo, dentre outros.

Logo após, caso sejam observadas deficiências ou lacunas na literatura existente, o investigador poderá propor alternativas para resolvê-las. Neste momento, o objetivo da investigação precisa ser delimitado, pois conduzirá toda a pesquisa.

Para concluir este tópico, considero importante o trecho abaixo, extraído do artigo de Nenty, (2009):

“A habilidade mais importante para uma revisão eficiente da literatura é a capacidade de ler rapidamente, compreender e resumir rapidamente o material e colocá-lo em uma forma que possa ser facilmente recuperada e usada no futuro. Durante uma revisão, as atividades de um pesquisador são citar, parafrasear, resumir e avaliar. Cada uma delas deve ser feita de maneira a proteger o direito do autor e evitar o plágio ”.

POSICIONAMENTO DO INVESTIGADOR

Igualmente importante é o posicionamento do investigador, ou seja, dentre os tópicos selecionados após a revisão da literatura e definição do objetivo, quais questões serão formuladas e quais aspectos serão estudados? As respostas a essas perguntas terão influencia direta das hipóteses que possui em relação ao tema.

Exemplificando: em uma pesquisa qualitativa, o investigador poderá propor uma questão geral, de forma a não limitar a pesquisa, e diversas subsequentes, ocultando seus objetivos; já em uma pesquisa quantitativa, poderá utilizar questões e hipóteses para moldar e focar especificamente o objetivo do estudo, considerando suas variáveis dependentes e independentes (Creswell, 2007).

O PAPEL DAS TEORIAS

Dependendo da abordagem escolhida para a investigação, as teorias podem estar presentes em diferentes momentos e servir a diferentes propósitos. Veremos a seguir as principais diferenças entre a teoria na pesquisa quantitativa e na qualitativa:

Quadro 1. Teoria nas abordagens quantitativa e qualitativa. Elaborado pela autora com base no artigo de Creswell (2007).

RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, consulte o Mapa Conceitual abaixo, elaborado sobre o tema (Clique sobre a imagem para ampliá-la).

Mapa Conceitual “Problemas de Investigação”.

REFERÊNCIAS

Creswell, J.W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª Edição. São Paulo: Editora Atlas.

Nenty, H. J  (2009). Writing a Quantitative Research Thesis. Int J Edu Sci, 1(1): 19-32.

Métodos de Investigação

No post sobre a Natureza da Investigação Científica, iniciamos a discussão sobre a definição de Problemas de Pesquisa. Agora, vamos seguir para o próximo passo: a escolha e aplicação do Método de Investigação.

No contexto da investigação científica, podemos definir “Método” como um conjunto de instrumentos e técnicas para recolher, organizar, analisar e comunicar os dados de uma investigação.

Por exemplo:

  • Para atender a um Método Quantitativo, podemos elaborar checklists ou testes de múltipla escolha como instrumentos de recolha de dados e análise estatística como técnica para analisar os dados;
  • Para atender a um Método Qualitativo, podemos elaborar guiões de entrevista ou um diário do investigador como instrumentos de recolha de dados e utilizar uma análise de conteúdo como técnica para analisar os dados;
  • Para atender a um Método Misto, podemos elaborar um questionário ou ficha de leitura como instrumentos de recolha de dados e utilizar uma análise de conteúdo e estatística como técnicas para analisar os dados.
  IMPORTANTE: A escolha do método depende dos objetivos de investigação.  

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estratégias QUALITATIVas

Segundo Creswell (2007), os processos qualitativos se baseiam em dados de texto e imagem, têm passos únicos na análise de dados e usam estratégias diversas de investigação. Vamos citar cinco delas:

Narrativa: recriação das histórias dos participantes. É solicitado a eles que discorram sobre o tema proposto, de acordo com uma ordem cronológica. Ao pesquisador cabe organizar estes dados e analisá-los.

Fenomenologia: análise de declarações significantes, em busca de sua “essência”. Há ênfase no indivíduo e em sua subjetividade.

Estudo de Caso:  individuais ou unidades molares que partilham uma característica em comum (família, comunidade) ou um amplo fenômeno social: Objetivo: ampliar a validade externa das mesmas (Aires, 2015).

Etnografia: estuda o compartilhamento de cultura de pessoas ou grupos, sem partir de pressupostos ou expectativas. O objetivo deste tipo de investigação é descobrir ou gerar uma teoria; não é provar nenhuma teoria determinada (Álvarez, 2011).

Teoria baseada na realidade: diferentemente do estabelecido pelo método científico tradicional, esta estratégia não se inicia com uma hipótese mas sim, a partir da coleta de dados, sua categorização e análise. O objetivo final é criar uma teoria a partir das análises realizadas.

Para escolher entre uma delas, é necessário levar em conta suas informações históricas, descrição, aplicações, o motivo dela ser apropriada e como influenciará os passos da pesquisa.

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O PAPEL DO INVESTIGADOR

Não é possível evitar a interpretação pessoal do investigador em todos os passos de uma pesquisa qualitativa; inclusive também há envolvimento de seus participantes. Sendo assim, o investigador precisa ter uma visão holística do fenômeno social estudado e, enquanto se aprofunda no tema, deverá refletir sobre sua própria prática e mudar protocolos ou questões de pesquisa, se preciso. Esta ação faz parte de toda pesquisa qualitativa, o que a torna única e dinâmica.

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instrumentos de recolha de dados

Neste post, vamos analisar dois instrumentos de recolha de dados, Entrevista e Questionário e uma técnica, a Observação, majoritariamente utilizados na pesquisa qualitativa:

1- Entrevista:

É uma conversa com os participantes da pesquisa, com o objetivo de verificar o sentido que atribuem a um determinado acontecimento do passado, ao seu cotidiano ou a um problema específico. As Entrevistas “são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os conflitos e contradições não estejam claramente explicitados” (Duarte, 2004).

Nesta conversa, o entrevistador (investigador) não propõe perguntas para o entrevistado; é o próprio entrevistador que deve, após a entrevista, ressignificar o que foi dito e responder às perguntas que surgirem.

Os tipos de entrevista são:

  • Semi-dirigida: Preparação de uma estrutura de entrevista, em função do objetivo pretendido.
  • Centrada: entrevistador guia a entrevista a partir de uma lista de tópicos
  • Em profundidade: utilizada no âmbito de histórias de vida

2- Questionário

É um instrumento de características mais positivistas, sendo muito mais exigente do que uma entrevista, pois é necessário estabelecer uma amostra representativa da população estudada e um conjunto de questões validadas por especialistas no assunto, a serem propostas aos participantes. O objetivo é conhecer esta população a partir da amostra selecionada e/ou entender um fenômeno social a partir da perspectiva destes participantes.

Os tipos de questionário são de:

  • Administração Indireta: o investigador preenche o questionário com base nas respostas do participante.
  • Administração Direta: o participante preenche o questionário diretamente.
  • Administração online: é disponibilizado um link do formulário para preenchimento online.

A perguntas de um questionário podem ser classificadas em perguntas abertas: o participante responde com suas próprias palavras; perguntas fechadas ou dicotômicas: são oferecidas alternativas de resposta; perguntas hierarquizadas: com múltiplas opções para serem assinaladas por ordem de importância, e perguntas em forma de lista: com múltiplas opções, porém as respostas devem apresentar um grau de intensidade crescente ou decrescente (Álvarez, 2011).

3- Observação

Na observação, “o pesquisador toma notas de campo sobre comportamento e atividades das pessoas no local de pesquisa” (Creswell, 2007). Com esta técnica é possível recolher a informação em tempo real, in loco e de forma espontânea, permitindo contato direto do investigador com o objeto ou fenômeno estudado.

Para realizar uma observação, o investigador precisa determinar onde será realizada, qual será o universo e a amostra, a frequência e os períodos de observação, quais serão os acontecimentos ou condutas a observar e qual formato será utilizado (Álvarez, 2011):

  • Esquema padronizado ou Flexível? Uma estrutura padronizada facilita a delimitação e seleção de situações relevantes, enquanto a flexível pode resultar em material espontâneo e levantar novas questões.
  • Observador participante ou sem interferência? Observador visível ou não visível? No modelo de observador participante, o observador deve se entregar sem restrições, viver, pensar e sentir como aqueles que se pesquisa; ou seja, se despersonalizar. Já o distanciamento (princípio de exclusão do observador) é a via de acesso a um conhecimento objetivado. O modelo de não interferência considera a neutralidade do sujeito como via de acesso ao saber. (Jaccoude e Mayer, 2008).
A observação também permite fazer triangulações, ou seja, logo após a observação, o investigador pode realizar entrevistas e assim obter várias fontes de dados. 

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Quais seriam então os passos de um investigador qualitativo para organizar dados de pesquisa tão abrangentes e provenientes fontes complexas ou tão diferentes?

Podemos conferir abaixo:

Quadro 1. Passos de um investigador qualitativo. Elaborado por Priscilla Ribeiro baseado na obra de Creswell (2007).

Neste quadro, estão sistematizados seis passos gerais para orientação de um investigador após a coleta de dados para a pesquisa. Obviamente estes passos necessitam de adaptações e especificações, dependendo da estratégia de investigação utilizada.

Por exemplo, para um estudo de caso, o passo 1 “Organizar os dados” será realizado de forma diferente de uma pesquisa narrativa, pois partem de materiais de coleta de conteúdo e formatos diferentes.

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RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, consulte o Mapa Conceitual abaixo, elaborado sobre o tema (Clique sobre a imagem para ampliá-la).

Mapa Conceitual “Métodos de Investigação”.

REFERÊNCIAS

Aires, L. (2015). Paradigma qualitativo e práticas de investigação educacional. Lisboa: Universidade Aberta. E-book disponível em http://hdl.handle.net/10400.2/2028

Álvarez, C. A. M (2011). Metodología de la investigación cuantitativa y cualitativa. Guia didáctica. Disponível em https://www.uv.mx/rmipe/files/2017/02/Guia-didactica-metodologia-de-la-investigacion.pdf

Creswell, J.W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

Duarte, R. (2004). Entrevistas em Pesquisas Qualitativas. Educar, n. 24, p. 213-225. Curitiba, Editora UFPR.

Jaccaud, M.; Mayer, R (2008). A observação direta e a pesquisa qualitativa. In A pesquisa qualitativa : enfoques epistemológicos e metodológicos. tradução de Ana Cristina Nasser – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

Paradigmas da Investigação Científica

O que é um paradigma?

Este conceito foi criado por Thomas Kuhn, em sua obra “The Structure of Scientific Revolution“, de 1962. Uma pequena síntese das principais contribuições desta obra pode ser consultada neste link; ela foi elaborada pelo Professor Silvio Chibeli, do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Brasil.

De acordo com Lukas e Santiago (2004), paradigma é “um conjunto de práticas científicas ou de investigação que em um espaço de tempo são aceitas de forma generalizada e que proporcionam um marco de trabalho, uns problemas e umas soluções”.

Para Coutinho (2014), os paradigmas permitem unificar e legitimar a investigação, tanto nos aspectos conceituais como nos metodológicos, ou seja, garante ao pesquisador uma orientação nos momentos de delimitação de um problema, recolha de dados e interpretação dos resultados.

Na área das Ciências Sociais e Humanas são considerados, majoritariamente, três grandes paradigmas: Positivismo, Relativismo e Crítico, os quais serão abordados a seguir.

Paradigma Positivista

Derivado das ideias de Augusto Comte, criador da escola positivista e considerado o pai da Sociologia. Ele considerava que a ciência é o único verdadeiro tipo de conhecimento, gerado a partir da experiência, e deve ser prático e não especulativo. Criou também a teoria dos três estágios de desenvolvimento, para explicação dos fenômenos naturais: teológico (mais primitivo explicados pelo misticismo), metafísico (explicados por causas e leis sem comprovação) e científico (mais avançado – explicados por experimentos científicos – onde se encontra o Positivismo).

Para mais detalhes sobre Augusto Comte e o Positivismo, recomendo o vídeo abaixo, do Canal didatics, disponível no Youtube: https://youtu.be/mFizxyWzq0E

Segundo Lukas e Santiago (2004), o objetivo geral do Positivismo é aumentar o conhecimento; este deve ser sistemático, comprovável, mensurável e replicável. O investigador, neste contexto, deverá levantar hipóteses e submetê-las a comprovação empírica sob rigoroso controlo experimental (Coutinho, 2014).

Os fenômenos educativos sob a lógica positivista são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA POSITIVISTA – EDUCAÇÃO
VariáveisEstudam-se relações entre variáveis da realidade educativa.
TeoriasSão universais e podem ser utilizadas para compreender qualquer contexto educativo.
InvestigadorPermanece neutro durante toda a investigação.
MetodologiaMuito rigorosa, principalmente na análise dos dados.

Como podemos observar, o Positivismo não permite explicar toda a complexidade do comportamento humano e, portanto, tem enfrentado muitas críticas na área das Ciências Sociais e Humanas.

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Paradigma Humanista/Naturalista

Este paradigma busca compreender o significado das ações humanas, construídas ao longo de suas interações sociais. Tem raízes na Antropologia, Sociologia e na Psicologia. Surgiu principalmente pela verificação de que o paradigma positivista não era suficiente para compreender o significado e interpretações dos sujeitos para situações cotidianas.

Como poderíamos utilizar leis gerais para explicar o comportamento de um indivíduo, que é único e influenciado por múltiplos fatores socioculturais? Os investigadores então, nesta perspectiva, procuram penetrar no mundo conceitual dos seus sujeitos, com o objetivo de compreender qual o significado que constroem dos acontecimentos de seu cotidiano, além das ideias preconcebidas (Coutinho, 2014).

Há uma reflexão contínua e um envolvimento emocional do investigador, além da interação dinâmica com o objeto de estudo (Gunther, 2006).

Os fenômenos educativos sob a lógica humanista são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA HUMANISTA – EDUCAÇÃO
VariáveisEstudadas de forma holística, pois as realidades são múltiplas.
TeoriasSe fundamentam em valores sociais que mudam com o tempo; dependem do contexto estudado.
InvestigadorÉ estimulado a explicitar sua interpretação sobre o fenômeno e interagir com o objeto de estudo.
MetodologiaApresenta várias vias metodológicas, adaptadas ao objeto de estudo e ao caso específico.

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Paradigma Crítico

É muito próximo do paradigma humanista porém, tem como objetivo analisar os fenômenos sociais de forma crítica, buscando transformar as realidades sociais e torná-las mais justas. Originou-se no século XX, na Escola de Frankfurt, criada na Universidade de Frankfurt – Alemanha, onde os filósofos Max Horkheimer e Theodor W. Adorno eram os principais representantes.

As investigações sob esta perspectiva se orientam sob um compromisso ideológico, que resulta em conhecimentos voltados para a emancipação humana. Como contempla um grupo heterogêneo de interesses, principalmente de grupos marginalizados pela sociedade, apresenta diferentes abordagens de investigação.

Os fenômenos educativos sob a lógica crítica são descritos da seguinte maneira (Lukas e Santiago, 2004):


LÓGICA CRÍTICA – EDUCAÇÃO
VariáveisPercepções individuais da realidade, influenciadas por valores da sociedade.
TeoriasTeoria e prática formam um todo indissociável e não existem teorias universais.
InvestigadorOs participantes são também investigadores e os investigadores também participam da ação social.
MetodologiaColaboração entre investigador e participantes.

RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, segue abaixo um Mapa Conceitual com os principais pontos abordados (Clique sobre a imagem para ampliá-la):

Mapa Conceitual “Paradigmas da Investigação Científica”.

REFERÊNCIAS

Coutinho, C (2014). Metodologia de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, Teoria e Prática. Edições Almedina.

Günther, H (2006). Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 22 n. 2, pp. 201-210.

Lukas, J. F.; Santiago, K (2004). Evaluación Educativa. Edição da Alianza Editorial, Madrid.

Natureza e características da Investigação Científica

O que é conhecimento científico?

Para iniciar a discussão sobre o tema, é necessário definir: O que é o conhecimento científico? O que é ciência? Para Lukas & Santiago (2004), uma das características que pode diferenciar o conhecimento científico do conhecimento vulgar (senso comum) é a forma como vai ser obtido este conhecimento, metodicamente, através da aplicação de um método; o chamado “método científico”. Na descrição deste método importa salvaguardar o seu caráter empírico, diferenciando este conhecimento das especulações ou abstrações (Almeida & Freire, 2003).

Abaixo estão sistematizadas oito características principais do conhecimento científico, segundo os autores Lukas e Santiago (2004):

Quadro 1. Oito principais características do conhecimento científico.

A investigação científica seria, então, uma atividade rigorosa e sistemática que tem como objetivo final a elaboração de teorias – leis que regem o funcionamento do universo.

Com relação ao processo de construção do conhecimento científico, ele pode iniciar-se a partir dos dados obtidos e posterior elaboração de um resumo descritivo do fenômeno ou teoria, o chamado Método Indutivo ou iniciar-se a partir de uma teoria; neste caso, são construídas hipóteses que deverão ser testadas ao longo do processo, o chamado Método Dedutivo.

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E no campo da educação?

No contexto de nossa área de interesse deste mestrado, a Educação, como a natureza dos fenômenos estudados pelas Ciências Naturais é diferente das Ciências Sociais e da Educação, houve a necessidade de reestruturar esta visão de investigação científica para algo mais abrangente.

Os fenômenos educativos, por exemplo, não são visíveis e exigem vias indiretas para acessá-los, dado que são representações humanas dos contextos estudados, (tanto dos participantes, quanto dos investigadores). Podem também ser explicados por mais de uma teoria, ou duas teorias distintas podem se basear no mesmo conjunto de dados de investigação (Almeida & Freire, 2003).

Sendo assim, há um debate relativamente recente sobre quais critérios mínimos são necessários para legitimar uma pesquisa de qualidade. É notório que:

“o excessivo rigor metodológico que impõe o método científico muitas vezes é um obstáculo para sua aplicação no estudo dos fenômenos educativos”

Lukas & Santiago, 2014

Neste sentido, o controle de variáveis e de suas medições e a obrigatoriedade de replicação dos resultados, por exemplo, são medidas difíceis de adotar neste campo de estudo.

Qual é o objeto de estudo da educação?

A resposta a esta pergunta nos conduzir para dois caminhos de investigação diferentes, mas não mutuamente excludentes:

INVESTIGAÇÃORESPOSTA
Básica ou Pura Busca de conhecimento científico sobre a Educação, para então compreender seus fenômenos.
Aplicada ou PráticaBusca de soluções práticas para os problemas, a partir da compreensão dos fenômenos

QUAIS SÃO AS SUAS Modalidades ?

Podemos sistematizar as modalidades de investigação científica em: Qualitativa, Quantitativa e Mista:

Qualitativa: Segundo Gunther (2006), são características gerais da pesquisa qualitativa:

  • compreensão como princípio do conhecimento
  • construção da realidade
  • descoberta e construção de teorias
  • ciência baseada em textos (produzidos via coleta de dados)

Quantitativa: tem como objetivo examinar as relações entre as variáveis para responder às questões e hipóteses, através de levantamentos e experimentos estritamente controlados. Garante medidas ou observações para testar uma teoria (Creswell, 2007).

Mista: reúne dados qualitativos e quantitativos em uma única investigação. Com a inclusão de métodos múltiplos de dados e formas múltiplas de análise, a complexidade desses projetos exige procedimentos mais explícitos (Creswell, 2007).

QUAIS SÃO AS Fases do processo de investigação ?

Vamos abordar neste post, especificamente as preocupações com a definição de um problema, que é a primeira fase de uma investigação. Nesta etapa, busca-se estabelecer as questões e os objetos de investigação, com especial atenção aos seguintes critérios, segundo Almeida & Freire (2003):

Qualidade e pertinência: qual o alcance social?

Ser concreto ou real: ajudará a resolver algum problema real?

Posicionamentos anteriores de outros investigadores

Condições para ser estudado: é viável? há recursos disponíveis (financeiros, humanos)?

Formulado de forma clara para entendimento de outros investigadores

Esta definição depende do quão familiarizado o investigador está com o tema envolvido, a complexidade da ideia, a existência de estudos antecessores, o empenho e habilidades do investigador e a modalidade escolhida de investigação – qualitativa, quantitativa e mista (Hernandez & Batista, 2003).

RESUMINDO…

Para sistematizar o que foi visto até aqui, consulte o Mapa Conceitual abaixo, elaborado sobre o tema (Clique sobre a imagem para ampliá-la).

Mapa Conceitual “Natureza e Características da Investigação Científica”.

REFERÊNCIAS

Almeida, T.; Freire, L.S. (2003). Metodologia da Investigação em Psicologia e Educação. Edição da Psiquilíbrios, Braga.

Creswell, J.W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

Günther, H (2006). Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 22 n. 2, pp. 201-210.

Lukas, J. F.; Santiago, K (2004). Evaluación Educativa. Edição da Alianza Editorial, Madrid.

Roberto Hernández, R.; Fernández C. & Baptista, P. (2003). Metodología dela Investigación. D.F: McGraw-Hill, Interamericana, México.

Qual o conhecimento que tenho sobre investigação?

Aprendi sobre investigação durante a Iniciação Científica, na Graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas. Foram dois anos de estudo, com bolsa do governo federal (CNPq), para investigar como a aprendizagem significativa crítica poderia melhorar o ensino de Biologia Celular. Durante este período atuamos, eu e meu orientador, junto à turma de alunos ingressantes das Ciências Biológicas. 

Primeiro investigamos quais conceitos prévios sobre o conceito de célula a turma trazia de seus períodos de ensino médio, utilizando placas de metal com organelas presas em ímãs. A dinâmica consistia na divisão dos alunos em grupos e na criação de células destes materiais. Depois, entregamos um roteiro para eles, com algumas perguntas:

Onde esta célula estaria no corpo humano?”, “Em que fase de desenvolvimento ela está?”, “Como está seu metabolismo? Alto, baixo”? A partir das respostas, discutimos com cada grupo porque escolheram aquela disposição, quantidade e tipos de organelas, bem como, os conceitos apontados no roteiro. Fizemos anotações e introduzimos as dificuldades nas aulas seguintes do professor com a turma. Esta foi apenas uma das dinâmicas; também utilizamos mapas conceituais, criação de modelos de células em 3D, debates tipo “júri simulado”, enfim, todas com foco na verificação das mudanças/aperfeiçoamentos dos conceitos prévios dos alunos ao longo das aulas. 

Os alunos apresentaram uma boa recepção a todas as dinâmicas e elaboraram mapas conceituais muito complexos e completos, ao final da disciplina. Apesar disso, encontrei certa dificuldade em estabelecer parâmetros para avaliar o aprendizado dos alunos, se ele realmente foi significativo. Também fui questionada sobre isso em um congresso no qual apresentei o trabalho: “Se foi uma avaliação qualitativa, como você pode ter certeza dos resultados”? Esta disciplina será muito importante para entender melhor estas questões; na época, confesso que fiquei um pouco preocupada com isso.

  • Aproveitando o assunto sobre Mapas Conceituais, segue o link do 1° Mapa Conceitual realizado a partir das discussões do 1° Encontro Síncrono da disciplina – o qual sintetiza o que foi abordado.